E DESDE QUANDO LÍDER TEM PERFIL? Por Jean Tavares Leite

Artigo sobre o perfil do líder- Foto: Newtrade/Reprodução

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Tenho acompanhado, com certo espanto, as publicações sobre o tema liderança e gostaria de discutir um pouco com você, caro leitor. Na verdade o que quero é provocar aqui um contra ponto, um pensar sobre mais crítico.

Vamos começar com a literatura especializada em gestão de carreira e vida corporativa. Toda semana tem um “novo” artigo sobre O PERFIL DO LÍDER. Lembre-se daí que eu me lembro daqui e vejamos se não é assim.

Para ser líder, líder mesmo, com L maiúsculo e tudo, tem que encantar entusiasmar, apaixonar, sua equipe de comando, comunicando tudo o que fez, faz e vai fazer, ouvindo muito e falando pouco. Sem esquecer-se de dar a empresa os melhores resultados em uma performance fantástica, apresentada em números fabulosos com impacto da participação da empresa no mercado, sofrendo muita pressão, concorrência e tudo mais.

Afirmo com humildade e rogo pela lucidez de quem me lê, que, no mundo real, no cotidiano dentro de nossas empresas, aqui ou lá na china, os lideres são seres humanos, feitos de carne e osso, com suas falhas, medos, ansiedades, e por que não, seus erros. E mais, nesses bem vividos anos de vida corporativa, nunca, nem de longe, vi líderes com elevados índices de acerto ou aprovação unânime. E olha que convivi e convivo com excelentes líderes, profissionais que, em suas organizações, fazem toda a diferença.

Outro dia um ex-aluno me ligou. Estava com problemas de relacionamento com sua equipe de vendedores e lembrou-se de me pedir ajuda porque eu tinha experiência nesse assunto (não sei de onde ele tirou essa ideia absurda), afirmou que seu diretor leu o livro “O monge e o executivo” e queria por que queria todo mundo bem “monge” lá na empresa, iria fazer uma pesquisa de satisfação dali a três semanas e a turma, segundo ele, não estava aceitando algumas mudanças, estavam na zona de conforto e ele precisou “sacudir” alguns, até substituir um dos membros mais resistentes. E sabia que a turma iria aproveitar para retaliar.

O que fazer? Agradar todo mundo é tarefa que nem o Jesus conseguiu. E olha que eu não estou falando de qualquer um não. Bajular, eleger o dia do sorriso e outras macaquices do tipo, é terreno pantanoso. Todo mundo percebe quando você esta sendo falso e interesseiro.

Eu argumentei com ele que pesquisas de satisfação interna, assim como gestão participativa e grupos de tomada de decisão devem ser empregados em equipes e empresas com certo grau de maturidade profissional e comprometimento, além, obviamente de necessitarem de um filtro, uma análise cuidadosa das respostas. Lembrei a ele também dos ensinamentos do mestre Içami Tiba (nossos amigos pedagogos conhecem bem), que nos alertava em seu livro “Quem ama, educa!”, nem sempre podemos, ou devemos satisfazer incondicionalmente as vontades daqueles que estão sobre nossa coordenação, sejam eles, filhos, colaboradores, alunos etc. Ser educador é também dizer não, muitas vezes com o coração partido.

E, deixando-o pasmo, completei minha argumentação transcrevendo uma entrevista que li do aclamado James Hunter, o próprio, autor do já citado “O Monge …” ao jornal Folha de São Paulo, onde, imagine só, ele reclamava da deturpação que seu livro sofre, sobretudo por parte dos sindicatos de trabalhadores, executivos insatisfeitos com seus chefes e profissionais com dificuldade de lidar com cobranças, metas e objetivos claros.

Liderar é tarefa espinhosa, difícil, não há, acredito fortemente nisso, um perfil, uma receita de bolo, um padrão. A forma de liderar está intimamente ligada ao grupo de liderados, a situação, ao momento presente, ao tipo de empresa, sua cultura etc. Só se aprende na prática, na selva corporativa, com muita coragem e determinação.

Jean Tavares Leite é Psicólogo organizacional e professor universitário.

jeantavares@bol.com.br

Crédito da Foto: Newtrade/Reprodução

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