Cronicas da Velha Ribeira (11)

Iogi Pacheco era gerente de vendas de automóveis novos na Marpas, trabalhando na matriz da empresa, nos tempos em que comercializava a marca Volkswagen, com instalações na esquina da Tavares e Lira com a avenida Rio Branco, no bairros da RIBEIRA.

Homem de muitas amizades, ele desenvolveu um bom trabalho durante o período em que permaneceu nessa função, evidentemente aumentando seu rol de amigos. Um desses, cliente novo, satisfeito com o atendimento que lhe foi dispensado na compra de um carro, presenteou Iogi com uma caixa de lagostas tipo exportação, produto com o qual trabalhava.

Aqueles crustáceos – quando bem preparados nas diversas modalidades em que são servidos à mesa – têm um cheiro agradável, apetitoso, muito diferente do odor que exalam quando crús, mesmo acondicionados em embalagens para exportação.

Assim, a vistosa caixa com as lagostas impregnou a sala de Iogi com um aroma desagradável, parecido com o cheiro de coisa “sentida”, que agredia o olfato de quem ali entrava.

Propositadamente, “alertei-o” sobre o aparente estado de apodrecimento das lagostas, depois do que, retirei-me p´ra minha sala.

Logo apareceu Dinarte Bezerra, dono da Tipografia Santo Antônio, alí na rua Frei Miguelinho, nosso cliente tradicional e amigo de longa data, com quem comentei o cheiro emanado dos crustáceos e pedi-lhe que fosse à sala de Iogi e “estranhasse” um forte odor de “coisa podre”…

O velho Dida representou muito bem seu papel e o presenteado começou a ter dúvidas quanto a boa condição salutar do produto que ganhara.

A outros amigos comuns que foram aparecendo, fiz o mesmo pedido e seguiu-se um entra-e- sai de pessoas na sala dele, as quais – entre um trato ou outro sobre negócios e até mesmo para uma visita de cortesia – sempre davam um jeito de sentirem-se incomodadas com aquela nauseabunda emanação.

A gota d’água, foi quando mandei entrar lá Djalbas, uma espécie de faz-tudo na Marpas, onde trabalha há mais de meio século, devidamente instruído para “sentir” a inhaca malcheirosa das lagostas.

Djalbas foi insensivelmente enfático: “Iogi, que diabo de catinga é essa? Perguntou, teatralmente tapando o nariz”.

“Home, deve ser dessas lagostas que me deram e já tô ficando chateado porque todo mundo que entra aqui fica incomodado com esse cheiro. É capaz dessas bichas estarem mesmo podres…, respondeu Iogi

“Jogue essa merda no lixo”, disse Djalbas, com um certo desencanto por ver fugir a chance de um bom jantar de lagostas à thermidor”, porém com o propósito de acabar com aquela contínua chateação…

Mas, a consciência doeu e não deixei que a ordem fosse cumprida. Talvez por isso, não fui convidado para o jantar…

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