Análise: Kingdom Hearts III (Multi) é uma obra feita com muito coração

Anunciado em 2013, Kingdom Hearts III chegou a nós no começo do ano de 2019, prometendo a conclusão da saga de Xehanort. Nesse meio tempo os jogadores vibraram com trailers e criavam suas teorias do que poderia acontecer com Sora e companhia. Foram alguns acertos, mas ninguém poderia adivinhar as muitas surpresas que Tetsuya Nomura preparou com tanto carinho e paixão. Infelizmente essa história emocionante não está livre de alguns problemas e seu sistema de batalha também não é perfeito. Então venha comigo conhecer o fim dos planos das trevas.

Para alcançar o Reino dos Corações

Xehanort planeja abrir o Kingdom Hearts, esse é seu objetivo desde que ele foi apresentado em Birth By Sleep, se tornando o vilão imediato da série. Tudo o que aconteceu desde então vai culminar aqui, mas Sora perdeu boa parte de seus poderes em Dream Drop Distance, principalmente um novo poder de despertar os corações dos mundos. Agora ele, junto a Donald e Pateta, vão em uma jornada se fortalecer e recuperar suas antigas habilidades, para assim se juntar a outros usuários de KeyBlade e impedi-lo.

Enquanto isso Riku e Mickey vão para o mundo das trevas tentar resgatar Aqua, para depois acordar Ventus e partir em busca de Terra, esses sendo os Keyblade Wielders necessários para vencer a batalha que está por vir. Em outro lugar, Lea e Kairi estão treinando e se fortalecendo com a ajuda do mago Merlin para participar do próximo grande conflito.

Kingdom Hearts III não é terceiro título da série, e mesmo existindo um espaço para novos jogadores, como um modo no menu só para explicar o que já aconteceu de mais importante, esse não é um jogo de fácil apreciação para os novatos. Digo isso exclusivamente pelo seu enredo, que possui referências a todos os outros games anteriores e um ritmo muito instável, tendo momentos de euforia ou emocionantes, outros só estranhos e lentos. Mas não se preocupem. Mesmo com tudo isso o enredo geral é ótimo, culminando em um final de cair o queixo com uma ótima ponta para muitos outros jogos a seguir.

Os incríveis mundos da Disney

Os personagens e mundos da Disney são o que compõem boa parte da narrativa da série Kingdom Hearts e aqui não é diferente. Com um número bem menor de mundos, nove ao total, a desenvolvedora teve a chance de crescê-los e deixá-los mais densos. Mesmo ainda sendo em uma perspectiva linear, eles são quase pequenos mundos abertos, compostos de vários colecionáveis, inimigos, baús, minigames, suas particularidades e músicas memoráveis.

É possível perceber a mudança nos primeiros minutos de gameplay com o mundo do Hércules, Olympus Coliseum, onde os espaços para exploração são expressivamente maiores que os outros títulos. Mesmo assim, ainda não é um mundo aberto, então esse mapa em particular é dividido em grandes partes, a cidade de Tebes, a montanha e seus arredores e o Monte Olimpo, podendo ser explorados à vontade. Diferente dos mundos de Big Hero 6 ou Piratas do Caribe, onde as extensões das áreas exploráveis são bem maiores, ou mesmo do mundo de Frozen, que é limitado em vários corredores gelados, por exemplo. E para navegar por eles podemos usar as paredes, o flowmotion vindo do Dream Drop Distance, entre outras habilidades que vamos adquirindo conforme jogamos.

Mesmo evoluindo essa característica da série, os mundos e seus enredos são o que movem toda a narrativa. No Olimpo eles adaptam a história do primeiro filme animado do Hércules, acrescendo algumas grandes mudanças, como a Organização XIII e seus membros, mas o escopo geral está lá. No mundo do Toy Story, Toy Box, a situação muda um pouco, pela primeira vez a história contada ali é canônica, acontecendo entre o segundo e terceiro longa, ou mesmo Big Hero 6 que parece uma sequência do filme de 2014.

Algumas dessas adaptações não ficaram tão boas assim, como em Frozen, por exemplo, que traz um pouco da magia dos filmes, com músicas e os personagens carismáticos, mas colocar o Sora, ou a Organização XIII não fez muita diferença. Pareceu-me apenas um resumo do filme com imensos cortes, o que foi uma decepção. Monstrópolis também é outro mundo confuso nesse sentido, sua história não se encaixa muito bem como uma sequência e nem como uma adaptação do filme, deixando as coisas complicadas para se entender.

Precisão visual

Cada mundo aqui é retratado de forma muito fiel a sua base, como em Toy Box, onde as coisas são gigantes perto dos brinquedos iguais aos filmes, ou em The Caribbean, que traz uma perspectiva realista aos personagens, Donald possui penas mais definidas, por exemplo. Esse cuidado acontece em todos os mundos em que ele é exigido, sendo piratas, monstros, super-heróis, ou brinquedos.

Os cenários são bem diversificados também, temos uma longa floresta até chegar ao Reino de Corona em Enrolados, ou o mar com várias ilhas para se explorar e um grande navio de Piratas do Caribe, ou uma fábrica de gritos ou risadas de crianças em Monstrópolis. Tudo muito colorido e de fácil assimilação com sua base. Infelizmente o mundo de Frozen também deixa a desejar nesse sentido, pois ele só adapta os arredores de Arendelle, então tudo é muito branco e montanhoso, e a variação na exploração aqui é quase zero.

Mas isso não tira o mérito artístico que esse mundo merece, Elsa, Anna, Olaf e demais personagens estão extremamente fiéis ao seu filme de 2014. Com7o acontece também em Corona, que mesmo não sendo perfeito, consegue trazer o longo cabelo da Rapunzel de forma bem satisfatória. Em Monstrópolis podemos ver um cuidado extra com os pelos e as texturas das peles de Sulley e Mike, que trazem muito bem o ar dos filmes da série.

Arte em Movimento

A ideia de distanciar os gráficos realistas e seguir algo mais parecido com o que é feito pela Disney não foi feito por completo, mas o resultado final é lindo e vibrante, mais parecendo um meio termo do que foi prometido. Cada efeito de magia, partículas, fogo, luz, água, expressão, CG, movimento, foi polido ao máximo na Unreal Engine 4. Mesmo que isso traga uma queda de quadros que são notáveis em alguns momentos mais intensos.

Para tentar contornar esses possíveis problemas, é possível escolher no menu inicial as opções de desempenho ou visual. Onde no modo Desempenho os quadros por segundo variam de 40 a 60 por segundo, algumas vezes tendo quedas mais notáveis. Já no Visual, jogado no PS4 Slim, tive vários problemas desse tipo, ficando até mais difícil de jogar.

Essas opções também se aplicam a outro inimigo do jogo, a câmera. Aqui você pode escolher se ela vai agir manualmente eu automaticamente, deixando a gosto do jogador como ele vai se frustrar em alguns momentos por não conseguir ver a tela. Felizmente esse problema me aconteceu poucas vezes nas minhas mais de 50 horas com o título.

Os mundos de Kingdom Hearts

São poucos os mundos criados para a franquia. Twilight Town, por exemplo, volta para a série semelhante ao que vimos em Kingdom Hearts II (PS2), porém mais viva e com menos caminhos para se andar, para alguns jogadores como eu, isso é decepcionante, gostaria de ver a estação de trem, por exemplo. O mundo do Yen Sid, Mysterious Tower, só aparece em cenas de corte, para a infelicidade de muitos que esperava poder andar nas longas escadas da torre, até mesmo Destiny Island não pode ser explorada de verdade aqui.

É uma pena que eles não usaram essa oportunidade para investir nesse ponto, acrescentando outros mundos originais, como Traverse Town. Infelizmente também não temos a presença de personagens de Final Fantasy, tendo algumas pequenas citações e easter-eggs ao longo do jogo.

Explore o Universo

Outra mudança bem-vinda foi as missões do Gummi Ship. Nos Kingdom Hearts, para chegar aos mundos, era necessário passar por um jogo de nave, atirando em Heartless no espaço. Agora temos um espaço aberto, onde nós realmente precisamos navegar pelos ambientes, desviando de pedras e outros objetos, ignorando os inimigos que aparecem, ou não. Quando iniciamos uma batalha, o objetivo vai ser destruir um número X de oponentes, ou derrotar o máximo que conseguir em um tempo estipulado.

Essa parte do jogo pode lhe custar algumas boas horas explorando e batalhando, principalmente se você está atrás dos melhores itens do título. Isso não é um problema, a navegação é simples e muito divertida de se fazer, se sobressaindo muito bem comparado aos anteriores. Também podemos montar nossa própria nave em um esquema de quantidade de peças que você pode usar. As criações aqui podem ser bem poderosas e criativas, mas essa não é uma funcionalidade que precise ser usada a fundo para vencer as batalhas mais difíceis.

Registre e se distraia

Esse é um título composto por vários minigames alguns mais divertidos que outros. Alguns exemplos são todos os jogos do Classic Kingdom, que imitam alguns games antigos de forma bem interessante até, ou o mundo do Bosque dos 100 Acres, onde você deve colher o máximo de frutas, flores e verduras que conseguir. Suas recompensas são interessantes o baste para jogá-los, indo de KeyBlades a ingredientes mais raros para se cozinhar com o Remy, já explico sobre ele.

Além disso, também existe um ótimo modo foto, em que você pode realizar algumas missões para o Moogle, como achar os Cactuars de Final Fantasy nas estrelas dos universos, ou os emblemas do Mickey escondidos em vários cantos pelos mundos, ganhando algumas recompensas para isso. Também podemos tirar algumas fotografias e selfies mais engraçadas, pois cada NPC pode reagir a um jeito diferente quando se aponta a câmera para eles, como fazer pose, sorrir, ou perguntar o que é isso. Uma função sempre divertida de usar.

Ficando mais forte

A jornada inicial de Sora e seus amigos é aumentar sua força, e isso é refletido na jogabilidade, que possui muitas ferramentas que evoluem conforme jogamos. Começando com o mais óbvio, esse ainda é um RPG de ação, então podemos equipar nossos itens, armas, atalhos de magias, entre outras coisas. Também volta a possibilidade de comprar habilidades do Kingdom Hearts II (Multi), que adiciona mais combos, finalizações, ataques em conjunto, ou até mesmo um bônus de força para um elemento mágico específico como fogo.

Nosso HP e MP também podem ser elevados, mas o quanto vai depender do que foi selecionado no começo do jogo, se você vai ser um guerreiro, mago, evoluirá mais os pontos de vida, ou magia, ou mesmo se vai ser um personagem equilibrado. A partir disso o personagem vai se moldar com essa escolha no decorrer do jogo e do seu level. Se não gostar de como as coisas vão indo, é possível ajustar um pouco as coisas com os atributos dos itens que você equipa, ou por uma ferramenta nova de culinária.

Em Twilight Town conhecemos um rato cozinheiro chamado Remy, do filme Ratatouille de 2007. Com isso nos é liberado um minigame para se cozinhar com os ingredientes que recolhemos pelos mundos. O jogo varia em quebrar ovos, espalhar sal e pimenta, ou colocar vinho com um pequeno quick time event. Tudo tem que ser feito na medida para não ficar simplesmente bom, ou mesmo ruim. Com a comida feita podemos adicionar um aumento expressivo em seus atributos em um período de tempo variável, como acontece em Final Fantasy XV (Multi).

O Moogle também está de volta, com ele vendemos, compramos e criamos alguns itens, como ingredientes, poções de cura e equipamentos para o nosso time. Mas, além disso, podemos melhorar nossas KeyBlades também, aumentando suas estatísticas como ataque, magia e até adicionando novas habilidades a elas.

Lute contra os Heartless

Os Heartless estão de volta, juntos aos Nobodys, comandados pela Organização XIII, possuem um único objetivo de ferir quem passa e o nosso dever é nos livrar deles com as nossas Keyblades, cajados mágicos e escudos. Não ocorreram grandes mudanças para o combate em si, Sora ainda é extremamente rápido e realiza acrobacias diversas para derrotar seus inimigos. Além de unir isso a magias, flowmotion, os especiais com parques temáticos, movimentos combinados, summons, e as variações e finalizações das nossas armas.

No começo isso pode se tornar uma bagunça de botões, mas com o tempo se torna uma das melhores coisas do título. É fácil gostar dessas mecânicas, elas se unem bem, e a ação flui de forma muito divertida. Mesmo que algumas coisas tenham sido deixadas de lado, como a variação de finalização de inimigos, ou mesmo a função para nos deixar usar duas armas ao mesmo tempo. No lugar disso tudo foi adicionada a possibilidade de trocar de Keyblade a qualquer momento das batalhas.

Essa nova mecânica não é por nada, as Keyblades agora podem mudar de forma para além de uma chave-espada. Cada uma tem uma variante, como a do Olimpo que pode virar um escudo, dos Piratas do Caribe que possui duas transformações, uma lança e, por fim, um mastro com bandeira. Em cada uma delas o Sora terá movimentos de ataques diferentes, e até finalizações diferentes, como era em Birth By Sleep. Para puxar um pouco mais para os Drives de Kingdom Hearts II, nossas roupas mudam de cor de acordo com o tipo de mudança da arma, se for de ataque será vermelho, se for voltado a magia, azul, e assim por diante.

Para ativar estas transformações, as magias mais poderosas, ou os ataques combinados, temos que realizar algumas ações prévias. Por exemplo, se atacamos com a Keyblade do Olimpo, depois usarmos Thundaga, e continuarmos o combo até preencher três ícones acima dos comandos, será liberada a transformação para o escudo e a magia Thundaza, extremamente poderosa e sem gastar MP. Mas conforme você vai liberando mais ações, a lista do que você pode fazer fica muito grande, e se perder com o que você quer fazer é muito fácil.

Já os especiais com os brinquedos de parque de diversão são ativados quando atacamos um inimigo destacado em verde. Quando feito isso aparecerá, acima dos comandos, a opção para acionar as xícaras, o barco pirata, o carrossel, a queda d’água, ou ainda um carrinho que atira. Eles variam muito bem o que pode ser feito em questão de dano, sendo bem poderosos dependendo de como o jogador os usa.

Temos também como invocar os Links para auxiliar nas batalhas. Não temos uma lista grande de opções aqui, variando entre um espírito de fogo, que é o Simba, um de água, sendo ela a Ariel, além de um Dream Eater, o Stitch e o Ralph. Todos eles possuem um visual e movimentos únicos, por exemplo: quando Simba é chamado, montamos nele e realizamos ataques a média distância e depois podemos finalizar em uma explosão de fogo. Mas o seu uso é restrito apenas quando seu MP está cheio, então eles não são as opções mais procuradas para acabar com os inimigos, apesar de serem muito poderosos.

O flowmotion por sua vez pode ser usado para se aproximar de inimigos mais afastados, ou usar outros objetos do cenário para atacar, como um pilar. O jogador também poderá focar em vários inimigos, como em Birth By Sleep, e realizar um ataque que varia por Keyblade, podendo ser vários raios, ou uma investida com yoyos.

Esse grande leque de ações pode soar estranho no começo, mas não se enganem, a diversão está em misturar essas mecânicas e derrotar as hordas de inimigos com poucos comandos e vários movimentos poderosos e mágicos. Finalmente usar magias no meio de um combo é algo prazeroso de fazer.

Medos vencidos

Esse é o jogo que culmina mais de 10 anos de experimentação mecânica e evolução narrativa de Tetsuya Nomura e sua equipe, e eu não poderia esperar menos deles. O fim da narrativa de Xehanort é emocionante e inesperado, junto às suas ótimas mecânicas de combate e criação, ele cresce ainda mais. Mesmo não acertando em tudo, como em vários aspectos do mundo de Frozen, alguns minigames mais chatinhos, suas quedas de quadro, ou mesmo alguns bugs menores, como ficar preso no ar, o seu brilho não se apaga. A longa espera se provou valer completamente a pena, então aproveitem as surpresas e joguem com gosto.

Kingdom Hearts will return

Prós

Contras

Kingdom Hearts III — PS4/XBO — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PS4

Análise produzida com cópia digital cedida pela Square-Enix
Revisão: Link Beoulve
Texto de Matheus Bigai Ferreira
Fonte: GameBlast
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