CRÔNICAS DA VELHA RIBEIRA (14)

Dizem que o amor é cego.

Esta, é uma afirmação polêmica, mas é quase um axioma.

Prefiro acreditar que a “cegueira” limita-se à paixão, que, ao contrário do amor, é mais passageira.

Pois foi o fogo da paixão que levou aquele colega nosso, dos tempos do Banco Nacional do Norte, a enrabichar-se por uma prostituta das mais rampeiras inquilina de um cabaré de quinta categoria na 15 de novembro. A “Soina”, além de muito feia, era suja e vivia constantemente embriagada. Mas ele a queria. E quando um homem quer uma mulher e uma mulher quando quer um homem, recorrem a tudo, para superar os obstáculos, alguns realmente intransponíveis.

De nada adiantaram, assim, os conselhos de amigos e colegas de trabalho, no sentido dele desistir daquela empreitada.

O cabra tava afim da fubana, mesmo. O único porém, era o medo do ambiente. Porque os cabarés da “15” eram conhecidos como antros de arruaceiros, marinheiros de terceira categoria, bêbados e desocupados de todas as espécies, estes só “tendo vez” lá, como gigolôs. Por isso, quando ele decidiu levar a diante o projeto de conchambrar com a rameira, levou dois amigos para “garantir a retaguarda”, caso surgisse algum imbróglio durante a concupiscência…

O trio chegou lá e abancou-se para tomar uma cerveja, porque – imaginem – naquele momento a loureira tava em plena função com um “cliente”.

Avalie-se pois, a força daquela paixão avassaladora: o sujeito ficou ali, esperando até que o freguês que chegou primeiro terminasse o “serviço”.

Finalmente, o objeto do seu desejo apareceu. Visivelmente embriagada, cambaleou até a mesa onde ele tava com os amigos “guarda-costas” e o levou ao seu quarto, imundo, pobremente decorado – se é que se pode chamar aquilo de decoração – e fedorento.

Conúbio consumado e pago, o valete deu-se por satisfeito. Mas, deu p´ra notar a decepção na sua cara, quando retornou do embate. Nenhuma confusão baixou à mesa dos dois que ficaram como “seguranças”, que se sentiram aliviados com o término da missão.

Um único incidente, porém, marcou aquele evento: foi quando, terminado o ato e o Romeu apaixonado já vestia a roupa, o gigolô da bandarra bateu à porta do quarto e – pasmem – reclamou em alto e bom som o fato dela estar com outro…

Mas, ficou só na reclamação, porque os dois amigos “garantidores” apresentaram- se ao escutarem o grito raivoso do “dono” dela e ele baixou a guarda.

Três dias depois, o apaixonado teve de recorrer aos serviços do lendário enfermeiro Taperoá, para tratar-se de fortíssima blenorragia, adquirida de sua amada…

Imagem: Canindé Soares

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