Crônicas da Velha Ribeira (44)

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Foi dito aqui neste espaço que a Av. Circular, depois de pavimentada, passou a ser um dos pontos preferidos pelos natalenses, especialmente nas noites de verão quando se aliviava o calor em passeios por aquela orla.

E era ali, também, que rolavam paqueras e namoricos nos bancos dos carros.

Determinado cidadão com atividades nesta Velha Ribeira, homem de meia idade, bem sucedido e bem casado, arrumou um “caso” e costumava frequentar aquela avenida, sempre estacionando em local discreto, para poder desfrutar mais à vontade o ambiente na companhia da amada.

Isso foi num tempo em que possuir um carro era privilégio de poucos. Ter dois, na garagem, era uma raridade. Assim, na casa do cidadão, somente um automóvel servia à família.

Daí que, como acontecido dezenas de vezes, estava ele com a amante e estacionado naquele lugarzinho mais afastado, porém no eixo da avenida.

Ora, como tava acostumado a fazer isso, nunca lhe passou pela mente que a cara metade lhe aparecesse assim, de repente, para flagrá-lo infringindo o sexto Mandamento da Lei de Deus. Até porque dificilmente se ia curtir os prazeres daquelas lonjuras sem um carro. E o carro da família tava com ele…

Mas aconteceu que uma amiga de sua mulher, pessoa mais abonada, tinha ganho um automóvel do marido e a convidou, juntamente com outras amigas, para um passeio pela Avenida Circular.

E, como disse Marcos de Vasconcellos no seu memorável livro “300 histórias do Brasil – pequenas vergonhas”, as mulheres têm o dom da ubiquidade.

Pois foi em meio a animado papo com as demais passageiras no carro da amiga, quando seria normal que não prestasse atenção a detalhes externos, que a mulher do “romeu” se deu conta de que aquele carro estacionado muitos metros à frente era o de seu marido. E como estava sentada junto à janela, do lado direito, pediu à motorista que encostasse junto e se deparou com o cidadão aos beijos com a namorada. Fulano! – gritou histérica.

O cabra – que tava de costas, pois beijava a parceira – voltou-se num susto e vendo quem se tratava, tornou a abraçá-la ignorando os gritos da esposa, a quem deu as costas. Ela tava possessa, mas as amigas a custo conseguiram acalmá-la e o carro acelerou, afastando-as daquela cena.

O sujeito, quando elas saíram, despachou o “caso” e correu à casa do sogro, onde lhe contou o drama. O velho, passado nas cascas do alho, ouviu tudo e filosofou, antevendo o desastre iminente: “Meu filho, negue que era você”.

– “Mas, seu Sicrano, ela me viu, cara a cara”. “NEGUE!!!” – repetiu o sogro.

– “Negue, negue, negue”!

E o distinto voltou p´ra casa, fez ar de inocência, negou que era ele e continuou negando, negando e negando.

Consta que houve um período meio sombrio entre o casal, mas o tempo fez sua parte e a paz doméstica voltou a reinar…

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