Outra visão sobre as manifestações em favor da educação

Vimos no dia 15/05/2019 uma grande manifestação, onde o motivo original seria a defesa da educação pública. Evidentemente que é justa a ideia e, quem acredita que ensino público é bom, que o defenda. Muitos dirão, com razão em certo ponto, que os que lá estavam não tinham a menor ideia do que estava realmente acontecendo ou em favor quê realmente gritavam aquelas palavras de ordem. Muitos não fazem ideia do que significa contingenciamento, mas estavam sendo contra. Mas por que isto aconteceu?

O que vemos e vivemos na política brasileira, hoje, é uma total falta de consideração com o povo, mas sim a preocupação de quem vence a guerra de narrativas toscas. Isto se aplica a todos os dois lados da polarização do momento.

De um lado, temos um governo que se comunica apenas para seus devotos, numa língua própria e quem não entende ou discorda passa a ser inimigo declarado da “Nova Direita” (seja isto lá o que for). São juvenis na arte de organizar narrativas, mesmo as verdadeiras, e totalmente atrapalhados e desconexos no compartilhamento destas, a não ser quando a ideia é acabar com reputações. Aí neste caso andam se especializando muito bem.

Já do outro, temos os profissionais das falsas narrativas. A esquerda brasileira adepta ao lema nazista de repetir mentiras até que estas se tornem realidades, dão show na hora de espalhar suas mentiras ou as inúmeras distorções da realidade (o que não deixa de ser mentira). Eles não tem a menor vergonha de serem flagrados mentindo descaradamente. Quando isto acontece, simplesmente mudam de assunto, se esquivam e continuam com outra mentira.

Ao lado de tudo isto temos duas torcidas fieis, aguerridas, lutadoras, mas totalmente emburrecidas e, parafraseando o presidente, idiotas úteis. Sim, de ambos os lados encontramos figuras dispostas a fechar os olhos e defender qualquer bobagem ou mentira disseminada pelo seu lado, sem constrangimento algum. Mesmo que isto seja totalmente contraditório com o que tenha sido dito ou defendido há poucos dias. Mesmo que esteja na cara a impossibilidade total de que isto tenha conexão com a realidade ou que seja meramente possível de execução. O que importa neste momento é guerrear contra o outro lado, mesmo que para enfrentar uma mentira ou uma verdade pessimamente narrada, outra mentira seja contada.

O caso do contingenciamento das verbas discricionárias da educação é um caso emblemático. Vejamos que o governo ao comunicar o contingenciamento, anunciou cortes de verbas a algumas universidades e que um dos critérios teria sido a promoção de balbúrdia em seus estabelecimentos, uma punição, ao mesmo tempo que estas verbas seriam destinadas ao ensino básico. Narrativa evidentemente clara para inflamar seus seguidores, que empunharam a bandeira de moralização das universidades públicas e para aqueles que como eu, que não aceita o modelo atual de divisão de verbas na educação, que privilegia o teto aos invés do chão que nem foi contruído. Como evidentemente não faz qualquer sentido um governo cortar verbas como punição a isto, logo a narrativa não pegou, principalmente quando se descobriu que haveria retenção de verbas no ensino básico, também. Muda-se a narrativa para o contingenciamento para todo o ministério da Educação, o que evidentemente deveria aser a verdade desde o início, visto que o orçamento votado no ano passado não conseguiria ser executado devido as frustrações de receitas da União.

Os profissionais de narrativas falsas caíram em campo e se aproveitaram da guerra estúpida que o governo declarou com a imprensa, para disseminar um monte de fake news, como a que diz que o contingenciamento (eles usam e continuam usando a palavra corte) seria de 30% das verbas. Hoje sabemos que não, que são 30%, apenas em cima das verbas discricionárias que somam 12% em média do orçamento do MEC, sendo variável de instituição para instituição, o que resulta num contingenciamento total de 3,5%. Outra narrativa é a de que a ideia é precarizar a educação para que esta seja privatizada. A verdade é que a educação já é precarizada no Brasil a um nível perverso. A nossa queda dos níveis educacionais vem sendo nutrida desde o ano 2000, e todos os rankings internacionais confirmam estes dados. A educação superior já foi privatizada de maneira errada e covarde com as linhas de crédito estudantis sem que haja uma minima avaliação das universidades inscritas, transformando analfabetos funcionais em analfabetos funcionais diplomados, gerando um rombo enorme nesta conta. Usar a falácia das pesquisas científicas no Brasil para defender um modelo falido de ensino é deprimente, principalmente quando sabemos que os resultados destas pesquisas é quase zero para a nossa sociedade e para a produtividade do país.

No meio de toda esta verdadeira balbúrdia de narrativas e de péssima comunicação ideológica, temos um povão que frequenta as escolas públicas e que conclui o ensino médio sem ter noções básicas de matemática e português, que sustenta com o pagamento de altos impostos, uma universidade pública que é frequentada pelos da classe média alta e ricos. Este povão, de facílima manipulação, é levado a defender algo que paga caro e não utiliza, nem como aluno e nem como beneficiário destes resultados, mas que sustenta um sistema perverso de transferência de renda, desta classe pobre para os mais favorecidos. Poucos destes entendem que o ensino público não é gratuito, mas é pago e muito caro quando compramos nosso arroz, nosso feijão…

Desdenhar do tamanho dos protestos, que sim, foram grandes, e chamar aqueles que participaram das manifestações de “imbecis” ou “idiotas úteis” não me parece nada inteligente, principalmente vindo de um presidente da República. Um bom gestor estaria preocupado em entender onde foi o erro de seu governo que não teve capacidade alguma de comunicar algo simples de entendimento.

Espero, mas duvido, que toda esta balbúrdia (palavra da moda) sirva para que as pessoas venham a entender que este modelo de ensino faliu, que não existe dinheiro para educação ou saúde universais, que entendam da importância da parceria do público com o privado, assim como acontece em todos os países desenvolvidos do Mundo, que alunos e professores devam ser incentivados e cobrados em suas pesquisas pela produção de resultados sérios, bem como que suas pesquisas só devam ser bancadas com dinheiro do público, apenas e tão somente quando seus possíveis resultados forem realmente benéficos e tragam vantagens para a sociedade.

Um país como o Brasil, atrasado em ciência e tecnologia, só terá como sair desta posição vergonhosa quando a educação for tratada como prioridade e entender que gastos (o que ocorre hoje) são bem diferentes do que investimentos.

Assine o canal no Youtube:

Nossas redes sociais:

Sair da versão mobile