Análise: Castlevania Anniversary Collection (Multi) é um túnel do tempo das lutas contra o Drácula

Em 2019 a Konami está completando nada menos que 50 anos de existência e, para comemorar sua jornada na indústria dos game, a empresa está lançando alguns pacotes de coletâneas dos jogos clássicos de suas maiores franquias. E é assim que temos a excelente coletânea de Castlevania Anniversary Collection (Multi), que traz oito dos primeiros títulos da franquia lançados para consoles entre as décadas de 1980 e 1990. Entre as maiores novidades do pacote está a aventura nipônica Kid Drácula (NES/Famicom) que jamais tinha sido lançada em terras orientais, mas que agora está disponível para os fãs mais religiosos da série neste pacote.

Uma coletânea curiosa, mas respeitosa

Quando a lista de jogos dessa coletânea foi anunciada, muitos fãs da franquia acharam, no mínimo, estranhas as escolhas de seus jogos. O principal ponto de crítica é a ausência de Castlevania: Symphony of the Night (Multi), game de 1997 lançado originalmente para o PS1 que é um dos principais e mais memoráveis títulos da franquia até hoje. Muitos pediram também jogos mais novos da franquia, como Castlevania: Aria of Sorrow (GBA) e Castlevania: Lords of Shadow (Multi), que fazem menos sentido ainda nessa coletânea.

Isso porque Anniversary Collection não é uma lista dos “oito jogos mais relevantes da franquia Castlevania”, mesmo que uma lista assim não fosse nada mal num pacote de jogos antigos. Mas na verdade, a intenção da Konami aqui é dar a oportunidade de fãs mais novos da franquia terem acesso em seus consoles modernos a jogos inacessíveis ou então pouco conhecidos de Castlevania, mantendo sua história viva e, principalmente, jogável.

Por isso, temos oito dos primeiros jogos da história de Castlevania na lista. Como linha principal, contando com a sequência principal da história da franquia, temos seu primeiro jogo lançado: Castlevania (NES), de 1986. Além disso, temos também Castlevania 2: Simon’s Quest (NES), de 1987 e Castlevania 2: Belmont’s Revenge (GB/GBC), de 1991; Castlevania 3: Dracula’s Curse (NES), de 1989 e Super Castlevania 4 (SNES), também de 1991.

Complementando essa jornada, temos alguns dos primeiros spin-offs da franquia: The Castlevania Adventure (GB), de 1989; Castlevania Bloodlines (Mega Drive) de 1994 e o já citado Kid Dracula (NES/Famicom) de 1993. Essa é uma lista bem válida para a primeira década de existência da franquia. Mas, obviamente, nem todos os jogos lançados nesses primeiros 10 anos estão contidos aqui.

Isso é um problema, pois a coletânea não envolve nem os títulos mais relevantes da franquia como um todo e nem todos os títulos lançados na primeira era de Castlevania. Claro que a adição de Kid Dracula é muito boa, já que o jogo foi muito bem recebido no Japão em sua época. Porém, não encontra-se facilmente uma justificativa para o arcade Haunted Castle, bem como Castlevania: Dracula X (SNES) não estarem nessa lista, visto que também foram lançados até o ano de 1996. Mesmo com a ausência de alguns nomes da primeira era de Castlevania, a coletânea mostra bem a evolução da franquia em seus anos iniciais.

A história contada pela nostalgia

Castlevania Anniversary Collection saúda com respeito os fãs mais antigos da série, com a trilha sonora original da franquia tocando em sua tela de fundo. Além disso, informações interessantes sobre os jogos ficam contidas no menu, informando jogadores mais novos sobre o enredo principal de cada jogo, seu ano de publicação e a plataforma original para a qual estava disponível na época. Isso faz da coletânea um material de respeito à história de uma das maiores franquias dos games, além de ser bem informativo.

Mas para além do menu de jogos, temos também com essa coleção a oportunidade de vivenciar o início da série de forma dinâmica e rápida. Assim, mudando de forma ágil entre jogos graças aos comandos rápidos do menu, podemos notar como a série progrediu aos poucos na jogabilidade nestes primeiros anos. É possível notar com clareza as evoluções estéticas, de mecânicas de jogo e quais elementos deram certo lá no início e continuaram sendo mantidos nos jogos seguintes.

Para jogadores da velha guarda, a sensação de nostalgia é quase instantânea com Anniversary Collection. Seja pela trilha sonora estupenda destes jogos, seja pela coleção em si, pelos desafios e comandos mais duros que tínhamos na época. Mas também pelas funcionalidades que a coletânea nos permite ter em cada jogo de modo separado.

Uma espécie de emulador de boa qualidade

A coletânea como um todo funciona como uma espécie de “emulador” que dá uma interface padrão para administrar todos os jogos. Nessa interface temos algumas funcionalidades muito bem-vindas para os jogos. Entre elas, uma lista dos controles de cada um deles. Isso ajuda bastante os jogadores de primeira viagem e também os mais antigos que não se lembram mais como funcionam os comandos de cada jogo.

Vale lembrar, a título de exemplo, que alguns comandos foram mudando de um jogo para outro. Como o uso de itens, que antes ocupava a combinação de dois botões e depois passou a ser um só, totalmente diferente dos dois primeiros. Ou então a presença de alguns comandos novos, como a possibilidade de atacar para cima com o chicote, elemento que não estava presente no jogo original da série.

Fora essa possibilidade de visitar os controles de cada jogo, temos também configurações de tela que deixam a experiência muito mais personalizada, de acordo com a nostalgia de cada jogador. Podemos manter cada jogo em seu formato de tela original, optando por deixar molduras pretas no que “sobra” da tela da TV ou então ocupar esses espaços com molduras feitas com as belíssimas artes remasterizadas da franquia. Além disso, podemos também optar por esticar a resolução do jogo na tela como um todo, ou escolher uma espécie de “meio termo”, dependendo da idade do título.

Por fim, podemos também escolher alguns efeitos de tela que deixam a experiência de jogo mais fidedigna com aquilo que tínhamos lá no início dos anos 1990, ou então otimizar aquela experiência, deixando os pixels bem mais nítidos do que eram possíveis na época. Tudo isso dá a possibilidade do jogador, nostálgico ou não, dar a sua cara para a experiência de revisitar estes clássicos, o que não passa de um capricho, mas que é muito bom de ser visto em uma coletânea como essa.

Extras ideais para fãs mais religiosos

Outra homenagem muito boa para fãs nostálgicos da franquia são os extras que acompanham os oito jogos da coletânea. Mesmo que seja um material todo digitalizado, estão presentes manuais de todos os jogos, imagens das capas originais de cada título e mais detalhes sobre seu lançamento, vendas entre outras informações. A aura desse material é muito parecida com a dos clássicos manuais de jogo que tínhamos nessa época, verdadeiros livros que acompanhavam alguns jogos contando sua história, descrição de personagens entre outras coisas.

Seguindo essa ideia, temos alguns conteúdos originais nesse material digitalizado, como por exemplo uma tabela explicando a linha temporal dos oito jogos presentes na coletânea, linha essa que, para os conhecedores da série, não é novidade. Mas que para os fãs mais novos é enriquecedora, já que a linha começa com Castlevania 3: Dracula’s Curse, por exemplo.

Também acompanha o material a história completa de todos os jogos na sequência da linha temporal, aprofundando a narrativa dos jogos de modo estupendo e sendo um prato cheio para quem gosta de se debruçar no universo da franquia, mas que às vezes sente falta de um material original para se apoiar.

Controles não muito bem adaptados

Mesmo que uma experiência dessa seja uma viagem no tempo gratificante, existem alguns elementos do passado que seriam melhores deixar lá atrás. Um deles, sem dúvidas, são alguns bugs e erros em controles dos jogos antigos. Para os mais saudosistas, é até divertido ter esses probleminhas de volta, como a falta de precisão em alguns jogos, mas para a maioria isso pode ser um incômodo.

Mas o pior momento dos controles é, sem dúvidas, quando tentamos utilizar analógicas para controlar os personagens na tela 2D. Isso porque em vários momentos o personagem acaba terminando uma caminhada de costas, virando-se para o lado oposto do qual você estava preparado para se defender, o que pode custar pontos de vida consideráveis. O mesmo não acontece quando utilizamos as setas direcionais do controle, dando mais estabilidade para os comandos.

Os clássicos de volta

Castlevania Anniversary Collection (Multi) é um ótima oportunidade para jogadores mais novos conhecerem as origens dessa franquia que, entre altos e baixos, atravessa a indústria por mais de 30 anos. Além disso, a coletânea é uma viagem no tempo muito proveitosa para os fãs e jogadores que experimentaram esses títulos lá nas décadas de 1980 e 1990, tendo um bom apelo à nostalgia e respeitando bastante os conteúdos originais de cada título.

Claro que se tratando de uma coletânea, não temos nada muito inovador além de recursos de emulação que funcionam bem com o prometido. Mas ter um acesso fácil por um preço de custo relativamente baixo a uma coleção de jogos clássicos memoráveis é uma ótima oportunidade. Mesmo que isso sirva bastante ao consumismo exacerbado, essas coletâneas servem para manter a história das franquias vivas e acessíveis para as novas gerações. E nisso é que está o maior trunfo de Castlevania Anniversary Collection.

Prós

Contras

 

Castlevania Anniversary Collection – PC/PS4/XBO/Switch – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4

 

Análise feita com cópia digital cedida pela Konami.

Texto de Gilson Peres

Fonte: GameBlast

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