Da reserva na várzea à titularidade e gols na Série C: a história de Bambam

Aos 25 anos, Claudivan dos Santos Bezerra, conhecido como Bambam, recebeu uma daquelas chances de ouro na carreira. Ele treinou uma semana no Globo FC, de Ceará Mirim, interior do Rio Grande do Norte, foi regularizado, entrou como titular segunda-feira contra o Santa Cruz, na Série C, e marcou dois gols no empate por 3 a 3. O curioso de tudo isso é onde ele estava dez dias antes: no banco de reservas de um time de várzea do Recife.

Sua última partida havia sido “apenas” um VBC x Real da Torre, válido pela fase classificatória da Copa Torre. Duelo que carrega um peso enorme nos campeonatos de várzea da capital pernambucana. Foi lá que saiu do papel de suplente para ser decisivo, marcando o segundo gol da vitória do VBC, que carrega em seu nome as iniciais de Valter Barreto de Campelo, nome do dono.

“Qualquer jogo ali é como Sport x Santa Cruz, o bicho pega. Depois que terminou, parece que foi coisa de Deus. Eu estava no lava-jato com Seu Valter quando o treinador do Globo (Higor César) me ligou. Depois cheguei em casa, liguei para ele. Na segunda-feira (10) o treinador falou com o presidente e na terça eu já cheguei treinando”, revelou Bambam.

O jogador já teve passagens em outros clubes profissionais. Nesta temporada, atuou em oito jogos pelo Fluminense de Feira de Santana, do interior da Bahia. Em outros anos, jogou em times pequenos como Coruripe-AL, Internacional-PB, América-PE, Doze-ES e Ypiranga-PE. Então, por que um atacante com sua bagagem estava na reserva de uma equipe que disputa campeonatos no terrão? Ele faz questão de explicar.

Bambam, primeiro em pé, da esquerda para a direita, antes de partida contra o Santa Cruz — Foto: Rhuan Carlos/GloboFC
Bambam, primeiro em pé, da esquerda para a direita, antes de partida contra o Santa Cruz — Imagem: Rhuan Carlos/GloboFC

– Não fui banco por ser ruim. Eu não tinha jogado um jogo pelo VBC, eu estava viajando. E seu Valter, dono do time, chegou para mim e disse: “Bambam, e aí, o que você acha?”. Eu disse para colocar os meninos que vinham jogando, senão a gente já ia começar perdendo de 1 a 0. E em um clássico como esse, precisamos de todo mundo bem.

Relação de amor com a várzea

Bambam ressalta que jogar nos campeonatos de várzea não é demérito. “Não posso esquecer as origens”, disse, em entrevista ao GloboEsporte.com. Apesar de não dar dinheiro, o atacante garante que a resenha vale a pena. Inclusive, também assumiu a comissão técnica de uma equipe que quer vencer a Libertadores da Várzea.

– Eu estou gostando tanto do futebol de várzea que eu sou treinador e vice-presidente de um time, o Guaraxa Futebol Clube. Lá do Totó (bairro da zona norte do Recife). Se eu tiver por perto, coloco o time no campo. E se eu tiver longe, escalo do mesmo jeito, à distância. Vamos jogar a Copa Totó no ano que vem e também queremos jogar a Taça Libertadores da Várzea. Eu amo a várzea. Minha mulher reclama quando eu vou jogar lá e eu digo: “Você me conheceu como? Não foi jogando? Então deixe eu fazer o que gosto”. Sempre é uma confusão (risos).

Bambam (terceiro da direita para a esquerda) com amigos do VBC, time da várzea que defendeu recentemente — Imagem: Arquivo pessoal

Sonho em voltar para o Sport

Formado nas categorias de base do Sport, Bambam só teve a oportunidade de jogar quatro minutos pelo time profissional. O jogo foi contra o Porto, pelo Campeonato Pernambucano de 2012. O Sport venceu por 3 a 1, fora de casa. Ele ainda ficou no banco de reservas em outros jogos.

Apesar de ainda ser muito jovem, Bambam confessou que, naquela época, deixou o bom momento subir à cabeça. Tudo aconteceu muito rápido e ele, segundo suas próprias palavras, se sentiu “Neymar”. Agora diz que está mais maduro e tem o sonho de voltar a vestir as cores do Leão.

“Claro que terei dificuldades, não vai ser fácil, mas eu tenho um sonho grande de voltar para o Sport. Hoje meu caráter, minha personalidade, mudaram muito. Eu, com 17 anos, estava indo para banco de um Sport x Palmeiras, Sport x Bahia em Salvador. Era tudo novo. Eu achava que ia ser um Neymar. Deus dá, mas Deus também tira.”

Sendo torcedor declarado do Sport, Babam tem os dois gols marcados contra o Santa Cruz como um dos pontos mais altos da carreira.

– Minha base foi no Sport. Eu enfrentei o Santa Cruz na base e sempre tive um bom histórico, perdi poucas vezes. Eu falei que a gente ia ganhar, com fé em Deus e, se possível, com um gol meu. Mas eu não prometi gol. E ainda saíram três, porque um roubaram, né? – disse Bambam, aos risos, se referindo ao terceiro gol que marcou, de cabeça, pelo Globo FC, mas que foi anulado pela arbitragem.

Texto de Daniel Gomes

Fonte: Globo Esporte

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