Crônicas da Velha Ribeira (66)

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Vingança frustrada.

As barbearias – faz tanto tempo que não faço a barba numa delas, que chego a pensar se, hoje, não deveriam chamar-se “cabelarias”, porque acho que atualmente poucos homens fazem escanhoamento do rosto pelas graças da navalha dos barbeiros – e os salões de beleza, sempre foram influentes centros de informações, haja vista os “buchichos”, fofocas e notícias verdadeiras que são trocadas entre as respectivas clientelas, durante os cuidados estéticos…

Por ocasião do “boom” que foi a enxurrada de bancos – grandes e médios – que aqui se instalaram no começo da década de sessenta, como é lógico, vieram muitos gerentes de fora para morar em Natal. Uns, integraram-se à comunidade, outros, tiveram passagens longas ou curtas. Um dos que cumpriram efêmera estada por aqui, veio gerenciar seu banco, cujas instalações ficavam nesta Velha Ribeira.

O cabra era do Sul, tipo “bonitão” e aportou na cidade com a família, que era composta de mulher e filho, este, já adolescente.

Mas, caiu nas tentações do demônio e foi aconchegar-se nos braços de vistosa secretária de uma das repartições locais.

A cara metade – não se sabe se por conta de eventual e compreensível queda no desempenho doméstico por parte dele; se por tê-lo visto, acidentalmente, numa discreta escapulida ou mesmo se agraciada por uma fofoca envenenada – botou “campana”, tirou a prova dos noves na identificação da concubina e decidiu tomar as providências que julgou necessárias, partindo para a ação..

Também não se tem conhecimento do método utilizado, mas o fato é que ela atraiu a rival para um local previamente escolhido e, ajudada pelo filho, aplicou tremenda surra na pobre coitada que, durante a sessão de chineladas, safanões, cocorotes e outros “carinhos”, foi aconselhada a sair do caminho do doutor gerente.

“Conselhos” evidentemente seguidos à risca…

Mas consta que a sanha vingativa da mulher traída não foi satisfeita com a pancadaria. Ela queria uma desforra maior.

E, por via de conversas no salão de beleza que frequentava, ficou sabendo que morava aqui um cidadão a quem a Mãe Natureza havia dotado com uma peça reprodutora de avantajado tamanho, identificada nos meios fofocais como “jarro”, que contrapunha-se à “biscuit” – palavrinha francesa para classificar um adorno de porcelana de pequeno porte.

Pois a sujeita passou obra de um mês, à procura do bem dotado.

Ocorreu porém, que o proprietário daquele pretendido instrumento de vingança tava de férias no Rio Grande do Sul e, nesse ínterim, o gerente havia solicitado transferência para outra praça e levou a família antes do regresso dele.

Escapou, assim, de sair daqui com um acessório invisível a enfeitar-lhe a testa…

…O que, talvez não o tenha livrado do inconveniente adereço, porque não se sabe se, na cidade para onde foi transferido, ela tenha encontrado o que procurava…

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