Crônicas da Velha Ribeira (79)

Volkswagen “Pé de Boi”, no show room de Marpas, em Natal.

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Raymundo Paiva

Seu Raymundo foi um dos mais antigos, respeitados, honestos e prósperos empresários aqui nesta Velha Ribeira.

Nasceu em 17 de dezembro de 1910, no distrito de Viçosa, município de Portalegre/RN. Ainda menino, destacava-se dos outros ajudando o pai na colheita do algodão, tarefa que desempenhou até os 15 anos, quando veio trabalhar na cidade de Açu, no armazém do Sr. Francisco Martins Fernandes, aparentado de seu pai que, vendo o esforço do menino Raymundo na tarefa de colher algodão e sendo uma pessoa que gostava de ajudar aos da família, trouxe-o para trabalhar em seu armazém.

Dois ou três anos depois, Raymundo foi trabalhar com o Sr. Vicente Martins Fernandes – irmão de “seu” Francisco – na cidade de Macau Rio Grande do Norte, onde ficou até o ano de 1930, quando transferiu-se definitivamente para Natal, contratado pela firma Martins Irmão & Companhia, grande exportadora de cera de carnaúba e couro, fundada pelo Sr. Vicente Martins, com sede na rua Frei Miguelinho, aqui no velho bairro da ribeira, onde permaneceu até o início de 1942, quando saiu para fundar a firma Martins & Cia. – embrião da empresa Marpas – tendo como sócio majoritário “seu” Vicente, que entrou na sociedade com o capital de 80$000(oitenta contos de réis) e mais a cessão de algumas representações.

A empresa cresceu muito, importando e comercializando farinha de trigo, arame farpado e outros produtos – como o uísque Canadian Club – em falta no mercado local em razão da Segunda Grande Guerra Mundial, recrudescida com a entrada dos americanos do norte, em dezembro de 1941, em razão do ataque aéreo japonês à sua base aero-naval em Pearl Harbor, no Havaí.

Terminado o conflito, quando a economia mundial começou a retomar seu desenvolvimento, a empresa, na época, com o nome de Marpas Comércio e Representações Ltda, nome criado por Raymundo ao juntar os sobrenomes Martins e Paiva, bastante conceituada e solidificada no comércio natalense, entrou no ramo da distribuição automotiva, passando a representar as marcas francesas de automóveis Citroen e caminhões Berliet.

Não prosperou com aquelas marcas, que não conseguiam vender em volume satisfatório face a supremacia dos veículos americanos no mercado e começou a aí passou a comercializar os Jeeps Willys, como preposta de um concessionário pernambucano, até que, – em 1956, a fabricante alemã de automóveis Volkswagen AG se instalou no Brasil. Com muito esforço, crença e competência ele conseguiu “furar o bloqueio” criado pelos alemães para refrear o forte assédio de empresários interessados na “concessão” da marca. A empresa Marpas foi então incluída entre as primeiras 100 concessionárias designadas em todo o Brasil.

Após muitos anos de intenso trabalho, Raimundo Paiva decidiu passar o comando da empresa ao sócio Gílson Torres dos Santos
Lima, e a se dedicar ao ramo imobiliário, atividade que exerceu, com dignidade e brilhantismo, até o seu falecimento, ao 92 anos.

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