Um dicionário para o Ensino de História

Com as recentes discussões sobre educação no Brasil, particularmente as colocações sobre contexto histórico, uma pergunta importante ocupa a mente dos educadores: o que e como ensinar? De maneira geral, a construção e planejamento para uma ementa disciplinar considera muitos aspectos, em particular o contexto. Pensando em uma resposta a essa proposição, as professoras Margarida Dias, da UFRN, e Marieta Moraes, da UFRJ, voltaram-se ao trabalho de planejamento e elaboração de um manual que pudesse ajudar os educadores que trabalham com a disciplina de História. Foi aí que surgiu o Dicionário de Ensino de História, único dicionário sobre o tema publicado no Brasil.

Elaborado com o objetivo de instruir estudantes e professores da área, a publicação se constitui numa compilação de 38 verbetes em formato de capítulos, que consolida o ensino de História como objeto de pesquisa no país. Lançado em julho deste ano durante o 30º Simpósio Nacional de História, ocorrido em Recife/PE, o Dicionário tem sido referenciado por profissionais pela qualidade dos verbetes e seu potencial pedagógico.

Diferente de dicionários usuais, que têm um grande número de palavras e significados, o trabalho das professoras Margarida e Marieta fornece um conjunto de saberes que tem como meta colocar em evidência temas, conceitos e debates sobre o ensino de História. “Ele é muito importante para os alunos da graduação, para eles conhecerem e se apropriarem da bibliografia que está sendo trabalhada no curso. Além das professoras organizadoras, mais 38 pesquisadores da UFRN e de outras instituições colaboraram com a publicação do Dicionário, o que empresta uma visão plural à obra. Também é muito importante para a formação continuada de professores e pesquisadores”, comenta Margarida Dias.

Publicação se constitui numa compilação de 38 verbetes em formato de capítulos – Imagem: Cícero Oliveira

Ao longo dos 38 capítulos foi possível reunir dados que estão dispersos em várias obras sobre o tema. Como explica Marieta Moraes, a organização dos verbetes considerou as três dimensões da produção do conhecimento histórico sobre o ensino de História: as relações com a teoria, métodos e historiografia; o diálogo e a produção relativa ao currículo; e as ações, atividades e conhecimentos relativos à aprendizagem. Assim, os verbetes destacam diferentes conceitos como Consciência Histórica, História Cronológica, Memória; outros mais relacionados às questões pedagógicas como Didática da História, Diretrizes Curriculares, Problematização e o Programa Nacional do Livro Didático e outros que, à primeira vista, podem parecer fora de contexto, como o Programa Nacional do Livro Didático e o verbete Novas Tecnologias, sobre as transformações tecnológicas e suas implicações com o ensino e educação.

Com evidente colaboração para o ensino qualificado de História no Brasil, o Dicionário marca um passo importante para a contribuição na formação de profissionais da educação. Publicado pela Editora da Fundação Getúlio Vargas (Editora FGV), a obra pode ser comprada online. Além da sua função literal como dicionário, de servir de consulta para as pessoas, a obra busca dar direção ao que é atual no campo das discussões sobre ensino de História no Brasil.

Espaço para concretização de estudos

Além de servir como suporte para estudantes e docentes, o Dicionário também se mostrou como uma oportunidade para os pesquisadores participantes da organização que puderam compartilhar seus trabalhos de forma sucinta e introdutória. Jandson Soares, doutorando do Programa de Pós-graduação em História (PPGH), assina, junto com Margarida Dias, o verbete sobre o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Para ele, falar sobre o Dicionário é também falar sobre sua trajetória acadêmica. “Trabalho com a professora Margarida há quase uma década e foi ela quem me apresentou os livros didáticos e os programas governamentais que os amparam como fontes histórica, abrindo caminho para novas reflexões”, afirma.

Jandson tinha acabado de defender o mestrado sobre espaço escolar e livro didático de história no Brasil quando recebeu o convite para participar da construção de um capítulo da obra. Para ele, ter a oportunidade de continuar o estudo escrevendo o verbete junto com Margarida foi um processo de construção que uniu experiências pessoais e reflexões epistemológicas de ambos.

A elaboração do verbete começou, segundo Jandson, com a montagem de uma estrutura básica, com os aspectos que não poderiam faltar no capítulo, a exemplo de questões históricas, conceituais, operacionais e políticas. A partir daí, eles passaram a colocar, mais diretamente, leituras e discussões que já compartilhavam sobre o PNLD. “Foi possível demarcar nossa posição favorável a essa política pública que qualifica os livros didáticos, mas que, acima disso, se configura como uma política de inclusão social, marcada em suas estruturas por valores democráticos”, declara Jandson.

Valor educacional e aplicabilidade em sala de aula

Para Margarida Dias, quando se fala sobre a contribuição na formação de professores, fala-se, por conseguinte, sobre as escolas, nas quais esses docentes atuam, serem beneficiadas. Isso acontece quando eles se capacitam para atender melhor aos problemas da escola, aplicando teorias presentes no Dicionário de Ensino de História.

Trabalho das professoras Margarida e Marieta fornece um conjunto de saberes cuja meta é evidenciar o ensino de História – Imagem: Cícero Oliveira

Glícia de Souza, aluna da graduação em História na UFRN, outra orientanda da professora Margarida Dias. disse já ter utilizado o Dicionário em uma das atividades na base de pesquisa como aporte teórico para assistir a uma palestra. A estudante descreve a obra com uma única palavra: esclarecedora.
Como graduanda, relatou que muitas dúvidas conceituais que guardava foram esclarecidas no decorrer da leitura. Ensino de História é uma área que ela gosta de estudar, principalmente por causa de sua importância. “Nessa perspectiva, percebo que todos os envolvidos no projeto — desde as organizadoras até os que contribuíram com a escrita dos verbetes — realizaram esse trabalho de maneira magnífica. Tenho certeza de que essa publicação contribuirá para o crescimento de diversos graduandos como eu”, afirma Glícia.

Dilton Cândido, pós-doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um nome de referência no campo de Ensino de História e foi mais um pesquisador a contribuir com o Dicionário. Seu verbete, Novas Tecnologias, aborda as possibilidades de aplicar o ensino de História de forma mais dinâmica. A ideia para o verbete foi mostrar que o professor não deve ter medo de arriscar quando se trata da utilização de novas tecnologias em sala de aula. “Ele precisa experimentar na sala de aula, precisa ter a coragem de tentar para que os resultados apareçam”, acrescenta.

O capítulo Novas Tecnologias foi escrito com a colaboração da historiadora brasileira, Anita Lucchesi, formada pela UFRJ e atual doutoranda em História Digital e História Pública pela Universidade de Luxemburgo. “Nosso desafio foi, em poucas páginas, mostrar para o professor o que se pode pensar em termos de novas tecnologias quando o assunto é História”.

Sobre sua participação, considera que “foi uma experiência muito boa, uma oportunidade de contribuir na formação de novos profissionais, novos historiadores, porque o Dicionário de Ensino de História acabou se tornando uma referência na historiografia brasileira. Qualquer um que venha a atuar nos campos da pesquisa e do ensino de História passa a ter a obrigação de conhecer a obra, e isso é algo importante”, destaca.

O professor do Centro de Educação da UFRN, Paulo Souto, é um dos que já faz uso do Dicionário em suas aulas. Para ele, a obra vem sendo utilizada em suas disciplinas porque é uma referência bibliográfica fundamental na área da Educação em geral. “É o primeiro dicionário de ensino de História que temos no Brasil e, como se percebe em seu sumário, ele contempla vários conceitos que perpassam a área. Então vale sim seu uso e a reflexão a respeito dos termos que ele coloca”, afirma.

Paulo começou a utilizar o Dicionário nas turmas de Ensino de História I e II do curso de Pedagogia, assim como nas turmas de Estágio Supervisionado para a Formação de Professores de História no Ensino Fundamental do curso de História. “Coloquei alguns dos verbetes nas ementas dos cursos justamente porque eu acredito que eles venham a somar na formação do professor de História, na formação do Pedagogo, que também leciona a disciplina de História para as séries iniciais do Fundamental I, e nos cursos voltados à Educação de Jovens e Adultos”, encerra.

Fonte: Agecom UFRN

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