Crítica: Kidding – 1ª Temporada (+16)

A vida não é um conto de fadas, nem um teatro de fantoches, um desenho animado ou um anime da Shonen Jump. Mas Mr. Pickes quer que a vida seja assim porque é difícil ser uma pessoa positiva e inocente em um mundo ambíguo e cheio de cinzas e não se quebrar no meio do processo e machucar todos à sua volta. Esse contraste entre desejo e realidade dá a graça de Kidding, série do canal americano Showtime que marca uma novo trabalho de Jim Carrey com Michel Gondry, diretor do clássico Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.

Todos nós estamos quebrados

Eu não poderia começar essa crítica sem dar todos os elogios possíveis para todos que fizeram esse show possível, desde a produção, passando pelo roteiro, até chegar nos atores. Dava para sentir a dedicação do conjunto que havia em cada abertura diferente para cada episódio usando cartolina com uma montagem em time-lapse, cada plano sequência, cada ambientação, cada uso singelo, mas pontual, de CGI, até mesmo em cada cena de nudez, sexo explícito e morte, o que não era algo que eu esperava ver em uma série que te ganha pela inocência e te prende pela obscuridade.

Se, inicialmente, só estamos lidando com um apresentador de um programa de TV infantil há 30 anos que está tentado viver sua vida como se seu casamento não estivesse quebrado e sua relação com o filho não estivesse em um abismo, logo agora no aniversário de morte de seu outro filho, logo o roteiro se expande, mostrando como todos lá estão quebrados, todos estão à beira de um colapso e ninguém parece quer ajuda. É um pai que coloca o show na frente do filho, até querendo substituí-lo para preservar a propriedade intelectual. É uma irmã que se vê em um casamento sem futuro, porque ela descobriu que seu marido é gay e não se assume porque a filha o viu se masturbando com o professor de piano dela. É um filho que usa maconha e que tem que lidar com um pai que não ouve, mas somente fala…

As várias faces de um homem quebrado

Mas a estrela desse show de cicatrizes é o Jeff. Dá para ver na cara do Jim Carrey o quanto, episódio a episódio, ele está perdendo a sanidade, mas é quase 100% do tempo forçado a manter a compostura e obriga todos aqueles que conhece a manterem a compostura. Para cada avanço com o filho, são dois passos para trás. Para cada decisão que ele toma sobre seu próprio show, são duas que seu pai faz por cima. Para cada cura, duas novas enfermidades. Todo mundo tem o limite. E a cena em que ele passa do limite é tão real que doeu em mim.

O mais irônico disso tudo é a quantidade de momentos genuinamente engraçados que nunca são forçados e os números musicais simplórios e bem encaixados que são tão essenciais para o avanço da trama quanto qualquer outro do episódio. Eu legitimante chorei um deles. Essa é a graça de Kidding. Essa capacidade de criar um roteiro tão orgânico, tão bagunçado, tão ironicamente harmonioso, tão cheio de risos e lágrimas, raivas e desesperos ao longo de 10 episódios de 30 minutos.

E nada disso seria possível sem a dupla formada pelo ator e pelo diretor, ambos produtores executivos. Eu não consigo pensar em uma singela falha na atuação do Jim Carrey. Se seu timing cômico o tornou famoso, sua capacidade e sua presença no drama são dignas de premiações, como sua indicação em 2019 ao Globo de Ouro de Melhor Performance em uma série de TV dramática ou musical. E para um diretor que já declarou abertamente não gostar de trabalhar com TV, Michel Gondry, que assina o roteiro de 6 dos 10 episódios, faz um trabalho belíssimo e espero muito mais da segunda temporada, que estreará dia 2 de Fevereiro de 2020 e terá a participação de Ariana Grande.

https://www.youtube.com/watch?v=ywdShPl5HEw&feature=emb_logo

Fonte: GeekBlast

Sair da versão mobile