A Marvel antes do MCU

A Marvel há 12 anos revolucionaria o cinema mundial lançando o primeiro filme do Homem de ferro e criando todo um universo compartilhado. Mas sabemos como os filmes baseados em quadrinhos sofreram antes disso, foram muitos altos e baixos. A DC, até então, era quem acertava mais o tom, principalmente com o clássico Superman de 1978, com Christopher Reeves, o Batman de Tim Burton e, mais recentemente, a trilogia de Nolan do Cavaleiro das Trevas.

Mas e a Marvel, como era antes disso? A empresa que havia revolucionado a indústria dos quadrinhos nos anos 1960 não havia arriscado as telonas, ou as telinhas, antes? Só foram existir filmes da Marvel depois do Robert Downey Jr. vestir a armadura de Tony Stark?

Vamos ver como era a Marvel antes de toda essa revolução, como ela errou muito até finalmente acertar o tom e conseguir trazer o mesmo sucesso de seus personagens nos quadrinhos para o cinema e televisão. Como era a Marvel antes do MCU.

O primeiro vingador

O Capitão América foi o primeiro herói da Marvel a ganhar uma série live action. Ainda no ano de 1944, auge da segunda guerra mundial, o Bandeiroso ganhou um seriado que se passava nas matinês dos cinemas americanos. Dick Purcell foi o ator que interpretou o Capitão na série. Uma curiosidade é que na série não existia o icônico escudo e o nome civil do nosso herói era… (silencio de suspense)… Grant.

Somente em 1979 o velho Capitão voltaria às telinhas, e não foi menos tenebroso que o seu antecessor. Nessa nova série ele tinha sim um escudo, mas era claramente feito de plástico, uma motoca maneira que dava tiros pelas rodas, um furgão bacana com uma maravilhosa parede retrátil onde se escondia sua linda supermotoca, e só. Ahhh, seu nome era Steve Rogers nessa série, pelo menos isso!

Anos 1970: Homem Aranha passando uma década de vergonha

Os anos 70 a Marvel estava escassa de boas ideias. Ainda em 1974, em meio a uma série infantil que passava na TV americana, chamada CTW The Electric Company, surge um esquete do Homem Aranha que foi batizado de Spidey Super Stories. Voltada inteiramente para o público infantil, o Cabeça de Teia era interpretado pelo marionetista e dançarino Danny Seagren e antecedeu o piloto da série The Amazing Spider-Man, tornando-se a primeira versão em live action do teioso.

Mas em abril de 1978 a CBS lança uma série “digna” do Cabeça de Teia, agora sim voltada para o público mais adulto, repleto de histórias intrigantes e cheio de cenas de ação… só que não! Estrelado por Nicholas Hamond, The Amazing Spider-Man falhava em tudo, com lutas mal coreografadas, efeitos nada especiais, um uniforme horroroso (que parecia ter sido costurado pela Tia May para o halloween) e inimigos nada dignos do nosso herói (nenhum super vilão deu as caras). A série só durou 13 episódios – dois especiais de duas partes que foram transmitidos como telefilmes. The Amazing Spider-Man ainda foi transmitido no Brasil nos anos 80 pela saudosa Rede Manchete, tendo seu nome totalmente traduzido para “O Espetacular Homem-Aranha”.

Vamos deixar uma menção honrosa para o, digamos, exótico Homem Aranha japonês. Até hoje não consigo compreender como a Marvel liberou o personagem para a Toei fazer essa pérola que passou entre os anos 1978 e 1979. Pelo menos ficou até melhor que a série da CBS, pois tinha veículos maneiros e um robô gigante, dignos de todo tokusatso da época.

O Incrível Hulk: primeiro tiro certeiro da Marvel

No final dos anos 70 a Marvel acerta a mão. Com pouco orçamento, efeitos visuais baratos, mas com um roteiro muito bem escrito e um elenco cativante, é lançado em 1978 O Incrível Hulk. Estrelado por Bill Bixby, na pele do Dr. David Bruce Banner (os produtores acrescentaram um “David” no nome do protagonista) e o Mr. America de 1974, Lou Ferrigno como o gigante esmeralda.

A série era mais focada no drama do Dr. Banner em carregar a incontrolável criatura dentro de si, do que na simples e pura ação. O roteiro mais denso, muito inspirado no Médico e o Monstro de Victor Fleming, e as excelentes atuações de Bixby e Ferrigno renderam um grande sucesso à série, que durou até 1982, gerou três telefilmes e ainda conquistou um prêmio Emmy em 1979 por melhor série dramática.

Lou Ferrigno ficou tão marcado como o gigante esmeralda que ele mesmo dublou o personagem em todas suas aparições no cinema, de 2003 a 2015, e ainda faz uma ponta no Hulk de 2003. Já Bill Bixby, infelizmente, faleceu em 1993 devido a um câncer.

Anos 1990: crise, muita galhofada e Blade

A década de 1990 não foi nada boa para a Marvel. A empresa estava à beira da falência e vendendo os direitos de seus personagens a quem oferecesse qualquer trocado. Foi por isso que X-Men e Quarteto Fantástico foram parar nas mãos da Fox; Hulk na Universal e Homem Aranha na Sony. Mas antes disso o Capitão América tinha ido parar na Cannon e lançou aquela obra prima da galhofa que foi o Capitão América de 1990, estrelado por Matt Salinger como Steve Rogers.

Depois foi só ladeira abaixo. Foi gravado um filme horroroso do Quarteto Fantástico em 1994 – era tão ruim que, depois da pré-estreia, foi sumariamente cancelado. Graças a Deus temos a internet e podemos achar essa pérola! Em 1996 se superaram, gravando o Geração X. A ideia era fazer uma série dos heróis mutantes, mas era tão ruim que deixaram quieto, mas ainda tiveram a cara de pau de lançá-lo em VHS como telefilme. Para finalizar a galhofada, em 1998 foi lançado o telefilme Nick Fury: Agente da Shield, estrelado pelo canastrão David Hasselhoff, que até fez uma ponta em Guardiões da Galáxia Vol. 2.

Mas nem tudo foi tomate podre para a Marvel nos anos 1990. Na crise a FOX adquiriu os direitos de vários personagens da casa das ideias, mas para não correr o risco por causa do histórico mau uso de seus personagens, eles resolveram arriscar com o, até então desconhecido, Blade.

Com Wesley Snipes como protagonista, um roteiro bem escrito e muita cena de ação, o filme foi um grande sucesso. Reergueu o nome da Marvel nos cinemas e abriu as portas para que a FOX arriscasse mais com os personagens que tinha. A Marvel finalmente entraria seriamente nas telonas.

Anos 2000: Os Mutantes viram o jogo

Com o sucesso de Blade, a FOX viu que tinha um grande trunfo na mão, os principais heróis da Marvel – Quarteto Fantástico e X-Men. Então os produtores não contaram conversa e começaram a produção do filme dos heróis mutantes. Ainda com vergonha das galhofadas anteriores, a empresa resolveu fazer um filme mais pé no chão, sem exageros e sem uniformes coloridos. Chamou atores poucos conhecidos para os papeis principais e dois grandes atores para encabeçar o antagonismo do filme, Patrick Stewart como Charles Xavier e Ian Mckellen como Magneto.

Com um roteiro muito bem desenvolvido, inspirado na guerra de ideais entre o Professor X e Magneto presente nas HQs, e sem abusar dos efeitos visuais, a FOX lança, em 2000, X-Men (X-Men: o filme, aqui no Brasil). A película foi muito bem recebida agradando a crítica e os fãs, estabeleceu Hugh Jackman como um mega astro, e se tornou a primeira grande franquia de super-heróis da Marvel, rendendo filmes até o ano passado, que foi encerrada com o fraco X-Men: Fênix Negra.

Porém a FOX só acertou com os Mutantes, ela ainda tentou emplacar filmes do Demolidor e do Motoqueiro Fantasma, uma franquia do Quarteto Fantástico (visando até um crossover da família Fantástico com os mutantes), mas todos eles foram fracos e não renderam bilheteria. Mesmo assim, com o sucesso de X-Men, outras produtoras abriram os olhos e viram uma mina de ouro na Marvel. A Sony lançou o excelente Homem Aranha de Sam Raimi, abrindo de vez as portas para os heróis da casa das ideias. O resto da história já conhecemos, a Marvel lançou o Homem de Ferro em 2008 e hoje temos o maior universo compartilhado na história do cinema.

Para encerrar a matéria deixarei aqui uma menção honrosa (ou horrorosa mesmo) para dois filmes: Dr. Estranho de 1978, se você gosta de bizarrice vá correndo ver isso; e também o filme do Justiceiro de 1989, estrelado pelo brucutu Doulph Lundgren. O filme é mal feito, é ruim, é clichê e muito mal interpretado. Assista esses filmes por conta e risco!

Originalmente publicado em Retro Hard

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