Miudezas da língua – Por João Maria de Lima

Miudezas da língua - Foto: Reprodução / Blog da Coach

As abreviações — e, principalmente, as reduções — são muito comuns na linguagem coloquial.  Considerando o fato de que somos um povo que gosta de usar o diminutivo e de abreviar tudo, algumas curiosidades sobre essa temática serão tratadas aqui. Um ponto importante é desfazer a confusão entre abreviação e abreviatura.

O clã dos impacientes tem origem na palavra “breve”, dissílaba que significa de pouca duração ou de pouca extensão. Abreviação é o processo que reduz a palavra até o limite de sua compreensão. É o caso de fotografia (foto), motocicleta (moto), pneumático (pneu), Belo Horizonte (Belô). Já abreviatura é a representação de uma palavra por meio de algumas de suas letras ou sílabas: apartamento (ap.), página (p. ou pág.).

Em frases como “É muita neura para uma pessoa só!”, neura é uma forma abreviada de neurose e tem sentido pejorativo. É comum usar um prefixo ou um elemento de uma palavra composta em substituição ao termo completo. Nesse caso, a forma abreviada deve estar num contexto para que se compreenda o significado. É o caso de  ex (por ex-esposa, ex-marido, ex-namorada) e micro (por microcomputador).

É bom lembrar que abreviação e a abreviatura são estratégias linguísticas válidas, em muitos contextos. A língua, que é viva, dinâmica e social, colabora com as táticas daqueles que as usam, mas exige algo em troca. Sobre essas exigências, algumas merecem destaque.

As abreviaturas formadas pelas diminuição de palavras têm três exigências: o ponto final, o “s” do plural e o acento da palavra original: caps., págs., sécs. Contudo, nem todos são iguais perante as exigências. Alguns usufruem de tratamento diferenciado porque dispensam o ponto e o “s” indicador de plural. Os privilegiados são as abreviaturas (consideradas símbolo) de hora, minuto, segundo, metro, quilograma, litro e seus derivados (quilômetro, grama, decilitro): 10h20, 30km, 10dl.

A abreviatura de hora, tão maltratada em qualquer tempo, é h (sem s, sem ponto e minúsculo); de minuto, min (sem ponto); e segundo, s (sem ponto). Também não se observam espaços entre o número e a abreviatura: 20h, 20h30, 20h30min45 (só se escreve min se forem especificadas as horas até segundo.

É importante entender que não se pode abreviar medidas do sistema decimal como se fossem horas. Para isso, deve-se recorrer ao uso da vírgula: 1,80m (e não 1m80); 5,8kg; 20,5l.

Quando nos referimos à abreviatura dos meses, há diferenças. O mundo das minúsculas exige ponto (jan.); o das maiúsculas dispensa-o (JAN). Sabida mesmo é a palavra televisão, que – sabendo da aversão do brasileiro a nomes grandes – tratou de arranjar logo duas formas: tevê e TV.

Não posso deixar de citar a maior invencionice dos últimos tempos: o plural de siglas com apóstrofo. Esse uso não tem amparo na língua portuguesa. Deve-se dizer PMs (e não PM’s), EPIs (e não EPI’s).

Esse sinal diacrítico em forma de vírgula voltada para a esquerda, mas também reto, se alceado a um nível superior ao das letras minúsculas, serve para indicar a supressão de letra e som, como Olho d´água, Vozes d’África.

Para quem não gosta de cometer desvios linguísticos ou para quem preza pelo zelo da língua portuguesa, é importante dar atenção a essas miudezas e considerá-las como instrumentos linguísticos tão válidos como outros recursos. Afinal,  “Abençoe a todos os que temem o Senhor, pequenos e grandes”. (Sl 115,13)

João Maria de Lima é mestre em Letras e professor de língua portuguesa e redação há mais de 20 anos.

profjoaom@gmail.com

Crédito da Foto: Reprodução / Blog da Coach

 

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