Estudo identifica 41 variações no genoma associadas a pessoas canhotas

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Mais de 700 milhões de pessoas – cerca de 10% da população mundial – são canhotas. Mesmo assim, a ciência ainda não sabe explicar o porquê do canhotismo existir, nem as razões pelas quais a mão direita é regra para maior parte da população. Menos ainda se sabe sobre os ambidestros – pessoas que conseguem utilizar as duas mãos igualmente bem –, que correspondem a apenas 1% dos humanos.

A preferência pela mão esquerda ou direita provavelmente é resultado de um processo complexo, que envolve fatores genéticos e ambientais. Com certeza não há um único gene que define a característica. Mas alguns podem influenciá-la – mais precisamente, 41 deles. É o que diz um artigo recém-publicado.

O novo estudo, fruto de uma colaboração internacional, é a maior análise genética focada em canhotos da história: utilizou dados de 1,7 milhões de pessoas, extraídos de bancos como o UK Biobank e a empresa privada 23andMe. Comparando os genomas de destros, canhotos e ambidestros, a equipe descobriu que há 41 pares de bases ligados às chances de uma pessoa ser canhota, e sete relacionados a ambidestros.

Um “par de bases” é, grosso modo, uma letrinha do DNA (A, T, C ou G). Cada gene contém as instruções para fabricar uma proteína. Uma mudança em uma única letrinha do gene é capaz de mudar a sequência de tijolinhos que constroem essa proteína, e, por tabela, sua função. Ou seja: o que os geneticistas encontraram foram 41 letrinhas de DNA que aparecem só em pessoas canhotas. Daí até saber o que exatamente essas letrinhas mudam é outra história.

Até então, estudos genéticos sobre pessoas canhotas haviam sido limitados por amostragens pequenas. Só haviam sido encontrados cinco variantes de genes que pareciam estar ligadas ao canhotismo, e elas eram bastante incertas.

Além da inovação no tamanho da amostra, a nova análise provou que a genética, sozinha, não explica o porquê de uma pessoa ser canhota. Na verdade, a equipe calcula que esses 41 genes correspondem a apenas 12% da variação no uso dos membros pelas pessoas, o que sugere que há outro fator (ou, como é mais provável, outros fatores) contribuindo com o resultado final.

“O grande número de participantes forneceu o poder estatístico para detectar genes que têm efeitos muito pequenos”, explicou em comunicado o australiano Gabriel Cuellar-Partida, autor principal da pesquisa. “Isso enfatiza a importância de estudos grandes.”

Sendo assim, o mistério continua. Sabemos que a preferência pelo uso das mãos começa ainda no útero, porque fetos mostram mais movimentação em um braço do que no outro. Pesquisas anteriores sugeriram que a influência de hormônios durante a gestação pode explica a existência de canhotos, bem como diferenças nos hemisférios do cérebro e fatores epigenéticos (diferenças na ativação e desativação de alguns genes).

Curiosamente, o novo estudo descobriu que várias das variantes genéticas relacionadas ao canhotismo também regulam a formação de microtúbulos no cérebro – pequenas estruturas proteicas que conectam células nervosas. Isso é um indício de que a resposta pode estar na morfologia do cérebro, e de que a diferença entre destros e canhotos começa quando o órgão ainda está sendo formado na gestação.

Sabe-se muito pouco sobre canhotos porque, por muitos anos, a condição foi má vista pela sociedade em geral e pouco estudada. Há relatos de perseguição e preconceito social, cultural e religioso contra canhotos em sociedades antigas distintas, prática que também se manteve na Idade Média.

Ainda no século passado o uso da mão esquerda era condenado em alguns lugares, e por muito tempo só se ensinava a escrever com a mão direita, obrigando canhotos a irem contra a própria natureza. Só recentemente a preferência pela mão esquerda passou a ser tratada como algo normal – mas até hoje as pessoas canhotas têm que se adaptar, no dia a dia, a um mundo feito para destros.

Fonte: Revista Superinteressante

Imagem: iStock

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