A correção do texto – Por João Maria de Lima

A correção do texto - Foto: Editora Unesp

É comum, em editais e instruções de processos seletivos, o item que pede ao candidato que conheça a norma culta ou que escreva segundo a norma culta. Como boa parte dos brasileiros, para não dizer todos, não está habituado a usá-la no dia a dia, em virtude das variações decorrentes das diferenças comuns que cercam qualquer falante (região onde mora, nível de escolaridade, classe social, faixa etária), esse critério é fator de reprovação ou de muito empecilho para candidatos.

A gramática normativa, conjunto de regras que sustenta o uso formal da língua, deve ser ensinada na escola. “Erra-se o português” quando os princípios estabelecidos por essa gramática são transgredidos. Não se deve esquecer, todavia, que se erra em uma modalidade da língua, e não o português, uma vez que existem várias situações de uso. Na verdade, parece mais legítimo dizer que houve um desvio em relação à norma padrão, uma das modalidades de uso do português.

De qualquer forma, toda vez que alguém precisa mostrar qualificação como bom usuário da língua, será importante não cometer desvios da norma culta. No caso da elaboração de textos escritos, sobretudo em contextos formais e profissionais, é requisito bastante necessário.

Saber escrever bem e não cometer erros gramaticais continua sendo exigido nos concursos públicos, em sistema de contratação de funcionários e em diversas atividades profissionais, servindo não só para classificar um candidato, mas, principalmente, para qualificá-lo ou desqualificá-lo.

Nesta seara de provas e exames, a concordância é um dos grandes problemas de quem se submete aos certames. Os defeitos de concordância verbal mais frequentes acontecem pela falta de identificação ou de confirmação de uma estrutura “sujeito+verbo+complemento” no enunciado. Mas o que pouca gente observa é que se trata de algo simples de resolver. Basta substituir o sujeito por um pronome reto – ele(s)  ou ela(s) – que facilmente o problema será resolvido, principalmente se o sujeito estiver depois do verbo.

Dessa forma, uma frase com desvio de concordância, como “Parece que não existe mais estudantes interessados em leitura” – em que o sujeito é “pessoas”, ficaria assim: “Parece que eles não existem mais”. Isso nos leva à sentença original, de forma correta: “Parece que não existem mais estudantes interessados em leitura”. Outro caso: “Segue, em anexo, os documentos solicitados”, em que o sujeito é “documentos solicitados”, ficaria assim: “Eles seguem em anexo”. Logo: “Seguem, em anexo, os documentos solicitados”.

Os desvios aumentam em frases cujo sujeito é muito extenso ou naquelas em que o núcleo do sujeito está distante do verbo: “Os processos econômicos para a retomada da economia do país deve demorar”. O núcleo do sujeito é “processos”, então, o verbo fica no plural: “devem”.

A contaminação do verbo com a palavra mais próxima, sem concordar com o núcleo do sujeito de fato, constitui enorme índice de erros: “A intolerância por parte de diversos segmentos sociais não poderiam ser evitados?”. Corrigindo: “A intolerância por parte de diversos segmentos sociais não poderia ser evitada?”

Por fim, deve-se ficar atento à concordância que envolver pronomes átonos: “o”, “os”, “a”, “as”. É importante lembrar que tais pronomes substituem “ele(s)”, “ela(s)”: “Aquelas promessas a fez esquecer o passado”. Adequando: “Aquelas promessas a fizeram esquecer o passado”. O assunto não se esgota aqui. Ainda se tem muito a falar, “Pois a Sabedoria vale mais do que as joias, e tudo o que é desejável não se compara com ela!” (Pr 8,11)

João Maria de Lima é mestre em Letras e professor de língua portuguesa e redação há mais de 20 anos.

profjoaom@gmail.com

Crédito da Foto: Reprodução / Editora Unesp

 

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