Empreendedoras comandam 32% dos negócios no Rio Grande do Norte

Ana Luiza, Fernanda Pinheiro e Camila Ataíde fundaram empresa de prestação de serviços e contrataram Bellay Góis. Elas se encaixam na pesquisa do Sebrae Nacional - Foto: Divulgação

A luta das mulheres por espaço no mercado de trabalho é diária, incessante e com uma pressão maior da sociedade. Apesar dos avanços registrados nos últimos anos, com ampliação da presença feminina em cargos de liderança em empreendimentos de tamanhos diversos, elas ainda são minoria. No Rio Grande do Norte, o sexo feminino responde por somente 1/3 dos negócios em operação. Dados do estudo ‘O Empreendedorismo Feminino no Brasil’, divulgado pelo Sebrae no final da semana passada, detalham que o Estado possui 115,7 mil empreendedoras, correspondente a 32% do número total. Em todo o Brasil, conforme o levantamento, são 8,6 milhões de empresárias.

O mundo dos negócios ainda é, majoritariamente, masculino. Mas há quem busque fazer a diferença. Um trio de mulheres visionárias decidiu tirar de 2020, o ano mais desafiante da história recente, a oportunidade de empreender com a abertura de um negócio próprio. Elas fazem parte da estatística apresentada pelo Sebrae no Rio Grande do Norte, são empreendedoras. No segundo semestre do ano passado, Ana Luiza Sena, Camila Ataíde e Fernanda Pinheiro decidiram estreitar ainda mais os laços de amizade que as unia há alguns anos e se tornaram sócias. Juntas, elas fundaram o Instituto de Reabilitação Orofacial (IROF), na zona Sul de Natal, que oferece serviços diversos de Odontologia.

“A nossa clínica é fruto da união de profissionais parceiros. Esse ano (2020) foi realmente muito atípico, mas acredito que podemos dizer que tivemos muita sorte em ter pessoas que sempre nos motivaram e acreditaram em nosso potencial, dando muita força pra continuar e não desistir do nosso objetivo. Em um ano como esse conseguimos superar vários obstáculos pessoais e profissionais e finalmente realizar um dos nossos maiores sonhos”, relatam Fernanda Pinheiro Barbosa Dinizm especialista em Prótese Dentária, e Camila Ataíde Rebouças Marinho, especialista em Endodontia.

O estudo do Sebrae revela que 53% das empreendedoras potiguares estão na faixa etária até 44 anos e sinaliza para uma triste realidade, que ainda persiste na área financeira, principalmente levando em consideração que os homens no geral recebem mais. No Rio Grande do Norte, 78% das donas de empresas ganham até um salário mínimo. Esse quadro é ainda mais grave no Piauí, onde 86% das empreendedoras estão enquadradas nessa faixa de renda.

Tathiana Udre reconhece que mesmo com toda essa força e diferenciais, as mulheres ainda têm remuneração em média 22% menor que a dos homens e ocupam menos cargos de liderança. “Além disso, ainda existe uma barreira emocional no processo de acreditar, do fazer acontecer. Na lista de desafios do empreendedorismo feminino, estão: a baixa autoconfiança e crença em seu potencial empreendedor, a falta de apoio de familiares, ambiente predominantemente masculino, e a dupla jornada de trabalho das mulheres”, relaciona.

Tathiana Udre destaca necessidade de reversão de quadro – Foto: Divulgação

As estatísticas reveladas na pesquisa precisam ser revertidas e o caminho é estimular a entrada das mulheres no meio empresarial, defende Tathiana Udre. “Fomentar o empreendedorismo feminino é essencial para que essas mulheres possam ampliar seus rendimentos, gerar mais vagas de emprego, manter-se no mercado e serem independentes, tornando-se protagonistas de suas vidas”, defende.

Empregos

O estudo aponta que 83% dos negócios conduzido pelo público feminino emprega de uma a cinco pessoas no Rio Grande do Norte. Tathiana Udre destaca que as empreendedoras são, geralmente, mais detalhistas, sensitivas e atenciosas, características que podem contribuir para a gestão do negócio. Na IROF, há uma auxiliar de atendimento, Bellay Góis, que se encaixa nesse dado. Além da presença maciça de mulheres, o empreendimento conta com um sócio, Victor Diniz, que é cirurgião bucomaxilofacial, e um especialista em tratamentos ortodônticos, Vinícius Duarte. Reforçando o time das mulheres, mas sem atuar na administração, há uma odontopediatra, Lorena Bezerra, e uma fonoaudióloga, Mariafra Soares.

Para Ana Luiza Moraes Sena Raulino, uma das sócias, manter o negócio vivo é um desafio ainda maior em meio a uma pandemia. “Empreender é sempre um desafio, e dentro desse difícil cenário de pandemia, se torna ainda maior. Quando abrimos a nossa empresa, nos deparamos com diversas questões a serem solucionadas, riscos e incertezas inerentes a qualquer investimento, mas acredito que fazer uma sociedade entre pessoas que confiamos nos estimula a superar as barreiras institucionais e conseguir seguir adiante”, sublinha.

Negras lideram empreendedorismo no RN

No Brasil, há uma maior proporção de empreendedoras brancas, que representa 51% do total. No entanto, a proporção da raça/cor negra cresce no centro norte do país e o Rio Grande do Norte segue essa tendência, com 58% das empresárias que se declaram negras. O dado faz parte do mapeamento’ O Empreendedorismo Feminino no Brasil’, elaborado pelo Sebrae.

Margarida Sônia se tornou microempreendedora individual – Foto: Divulgação

Margarida Sônia é uma dessas empreendedoras. Além de negra, ela integra o percentual revelado pelo estudo que indica que 6% das mulheres potiguares desenvolvem uma atividade no setor da agropecuária.

Sônia é uma das agricultoras do assentamento Santa Maria, na agrovila Tabuleiro Alto, na cidade de Ipanguaçu, e, desde 2007 formalizou-se, tornando-se dona do seu próprio negócio: uma área de produção de legumes e hortaliças. “Saí de uma sala infantil, onde eu era cuidadora, para cuidar da minha terra, plantar, e me tornar a Margarida de hoje, uma agricultora”, conta a produtora de agroecológicos.

Inicialmente, a atividade era para consumo próprio, uma maneira de garantir uma boa alimentação para a família, mas a produção acabava gerando excedente. Daí surgiu a ideia do negócio: oferecer kits de vegetais, com uma variedade de até 35 tipos de hortaliças. “Tiro o sustento da minha família como mulher empreendedora, negra e agricultora que sou, desse sistema de produção. Faz toda diferença na vida dessa família, de resistência”, diz Margarida Sônia, que vive na comunidade com o companheiro e cinco filhos.

Sobre a presença da mulher negra à frente de um negócio, a agricultora declara: “Me considero uma mulher negra, protagonista da minha própria história. Tenho orgulho de ser e exercer a pessoa que sou. Me sinto feliz por entender que outras mulheres me têm como referência. Por isso, me considero uma pessoa resistente, empoderada. Mas isso só aconteceu depois da oportunidade de ter meu negócio”, lembra Sônia.

Margarida Sônia tem uma trajetória de lutas e batalhas, sendo na região uma pioneira nessa ideologia de equidade de gênero. A microempreendedora individual já esteve à frente da associação de agricultores da agrovila, a coordenadora de políticas voltadas para as mulheres dentro da assistência social do sindicato dos agricultores e chegou até a se candidatar.

“Eu posso dizer uma coisa: há 25 anos eu não podia ser assentada em uma área de assentamento, onde eu moro, nem ter o registro da minha candidatura como vereadora. E hoje tudo isso me foi possível, o que é muito gratificante. Como é interessante o papel da mulher na sociedade. A gente já conseguiu muito e precisamos avançar mais. As mulheres têm, sim, que ocupar os seus próprios espaços”, sublinha a pequena produtora rural.

Valorização

Um dos exemplos dessa filosofia de valorizar o empreendedorismo feminino é o programa Sebrae Delas, que incentiva, apoia e fortalece a participação das mulheres à frente das empresas por meio do desenvolvimento de competências. É um programa de aceleração com o objetivo de aumentar a probabilidade de sucesso de ideias e negócios liderados por mulheres.

Entre 2019 e 2020, mais de 10 mil donas de pequenos negócios já foram atendidas. O programa oferece cursos, workshops e consultorias para mulheres de todo o País. O Sebrae Delas também incentiva o contato entre as empreendedoras para que essas mulheres construam uma rede de apoio e compartilhamento de problemas e soluções na gestão empresarial.

Crédito da Foto: Divulgação

Fonte: TRIBUNA DO NORTE

 

 

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