Dize-me o que postas, que te direi quem és – Por João Maria de Lima

Dize-me o que postas, que te direi quem és - Foto: Reprodução/Cake

A gramática pode ser um importante instrumento de apoio a profissionais que vivem da palavra, principalmente se houver um entendimento mínimo de como ela se organiza. A divisão e a estrutura organizacional não são fáceis nem simples, mas nem por isso esse poderoso recurso deve ser esquecido como fonte de consulta.

Nos últimos tempos, esse grande auxiliar do professor de português tem deixado de ser aquele livro enfadonho, cheio de regras difíceis de decorar, sem utilidade no uso da língua.

Agora, os conhecimentos linguísticos são focalizados em textos de diferentes gêneros, o que permite seu uso em diferentes contextos de interação verbal e de circulação na mídia. Essa estratégia (antes tarde do que nunca) tem contribuído para que o estudo gramatical e linguístico se fundamente na reflexão e no conhecimento prático, possibilitando melhor compreensão e uso da língua como instrumento de integração social.

Se o ensino do nosso idioma oficial tivesse sido sempre assim, muita gente talvez não tivesse tanta ojeriza pelo estudo de português, e nós não assistiríamos a tantos atropelos às regras, que podem e devem ser ensinadas de forma divertida. Especialmente nos últimos tempos, quando a comunicação vive às pressas, e a vontade de publicar postagens em rede social se tornou algo premente, conforme expressões vão sendo repetidas frequentemente, muitas pessoas fixam-nas de forma errada na mente. A internet não tem comprometimento com a gramática, e os internautas precisam se lembrar disso. O que mais vemos hoje é rede social como fonte de conhecimento, e nem sempre o é.

Quando restringimos o tipo de texto que lemos, limitamos nosso potencial. O Facebook, o Instagram e o Whatsaap podem ser importantes fontes de entretenimento e – em alguns casos – de informação e conhecimento. Em muitas ocasiões, são para ler e rir, mas não servem como única fonte de aprendizado da língua.

Não há razão para pânico por conta disso. A internet é um reflexo da sociedade, assim como outros fenômenos linguísticos. É importante ressaltar que as redes sociais têm feito um papel interessante de comunicação com pessoas que antes não tinham o hábito de ler e escrever diariamente.

Entretanto, se você é daquele cujo perfil nas redes sociais é um cartão de visitas, tenha cuidado e mantenha distância de erros de português, pois, com todo mundo de olho no que o outro faz no Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn, os deslizes por lá podem resultar em oportunidades profissionais perdidas. Neste sentido, as derrapadas no português fazem muita gente passar vergonha. Para evitá-las, uma boa estratégia é conhecer os erros gramaticais mais comuns.

Outro dia, um amigo me reclamou que precisou evitar uma confusão, entre dois amigos dele, por causa de uma mensagem no Whatsaap na qual a ausência de uma vírgula fez toda diferença. Dizia a mensagem inicial entre um cobrador e um devedor, cujos nomes são fictícios.  1 – De Stanislaw para Astrogildo:  “Astrogildo, quando você começará a me pagar?” 2 – De Astrogildo, respondendo a Stanislaw: “Tenha  paciência! Estou acendendo uma vela para Deus e outra para o diabo Stanislaw”.

A ausência da vírgula na mensagem 2 (após o termo “diabo” e antes de “Stanislaw”), fez Stanislaw dizer ao amigo de ambos, suposto fiador do empréstimo, que, além de não dar garantias do pagamento, Astrogildo ainda o teria chamado de “diabo”. A confusão foi armada. Haja áudio para explicar a situação.

E por que isso acontece? Quando usamos um termo para chamar alguém (pode ser um nome próprio, uma qualificação, um pronome), devemos isolá-lo por vírgula. A esse elemento que não faz parte na frase, mas expressa um chamamento, denominamos “vocativo”.

Imaginemos, agora, uma situação em que a mãe pergunta à filha se esta pôs a panela no fogo, e a filha responde: “Pus no fogo mamãe”.  Pronto! O matricídio está cometido. Para salvar a mãe, vamos pontuar corretamente: Pus no fogo, mamãe. Está claro que essa falta de pontuação, tão comum nas redes sociais, traz um prejuízo grande à mensagem.

Outro nó difícil de desatar ocorre com mensagens ambíguas. Em um grupo de trabalho oficial no Whatsaap (esse tipo de comunicação está cada vez mais comum), uma situação chamou a atenção. Dizia o texto: “Acabei de falar com o chefe que estava com depressão”.

Na frase, não sabemos se quem estava com depressão era o chefe ou a pessoa que estava relatando o assunto. A frase também também nos leva a entender que há outros chefes, mas um passou por depressão. Se, de fato, for a enunciadora da mensagem a deprimida, a correção fica assim: Acabei de falar com o chefe sobre minha depressão. Principalmente em grupos de trabalho, ficar atento ao que se escreve é fundamental. “Apressei-me, e não me demorei em guardar os teus mandamentos.” Sl 119,60

João Maria de Lima é mestre em Letras e professor de língua portuguesa e redação há mais de 20 anos.

profjoaom@gmail.com

Crédito da Foto: Reprodução / Cake

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