Viagem pelas curiosidades da língua – Por João Maria de Lima

Viagem pelas curiosidades da língua - Foto: Reprodução/ Ncultura

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Seguimos nossa viagem pelas curiosidades da língua. Muitas delas tiram o sono de quem dispõe de pouco interesse em pesquisar ou até mesmo de quem não sabe onde se socorrer quando as dúvidas aparecem.

ESSE – ESTE – Há diversas situações de uso, mas uma dúvida muito comum diz respeito à aplicação desses pronomes no texto. Quando nos referimos a algo já citado, ou seja, que o leitor já sabe o que é, usamos esse, essa, isso: “O amor vence todos os obstáculos. Isso é fundamental”. Usamos este, esta, isto em relação a algo que, só depois, o leitor ficará sabendo o que é: “Não esqueça isto: o amor vence todos os obstáculos”.

Vamos, agora, falar sobre a localização no tempo. Devemos empregar “este” (esta, isto) em relação a um espaço de tempo presente. Já o demonstrativo “esse” (essa, isso) deve ser utilizado em relação a um espaço de tempo passado: “Ontem, tive ótimas surpresas, não esquecerei esse dia”.

Quando tratamos da localização de seres no espaço, devemos empregar “essa” (esse, isso), se nos referirmos a algo que esteja perto da pessoa com quem estamos falando: “Você vai à festa com essa roupa, menina? ” (a roupa está sendo usada pela menina, portanto, está junto da pessoa com quem se fala, por isso se utilizou a forma “essa”). O pronome “esta” (este, isto) deve ser usado para se referir a algo que esteja perto da pessoa que está falando: “Esta minha camisa foi comprada recentemente” (quem está falando sou eu; a camisa está próxima a mim).

MULHER TODA-PODEROSA – Dia desses, um repórter se referiu a Kamala Harris como a “toda-poderosa”.  A vice-presidente americana nunca foi “toda poderosa”. Trata-se de um adjetivo composto. Nesse tipo de palavra, o primeiro elemento não varia. A mulher é “todo-poderosa”; “As mulheres são todo-poderosas”. A exceção é “surdo-mudo”, caso em que variam os dois elementos: “mulher surda-muda”, “mulheres surdas-mudas”.

EMIGRAR – IMIGRAR – MIGRAR – Deve-se ter bastante atenção aos três verbos. “Emigrar” é sair (de um país para ir viver em outro) por certo tempo ou definitivamente: “Milhares de judeus emigraram da Polônia para Israel”; “imigrar” é estabelecer-se em país estrangeiro, em geral definitivamente. Pode ser, ainda, entrar e fixar residência em cidade, estado ou região de seu próprio país, que não a sua de origem: “Durante a seca, o nordestino foi forçado a imigrar”; já “migrar” é mudar periodicamente de lugar, região, país: “Durante a guerra muitos europeus migraram para a América”.

CUIDADO COM LIVROS DE AUTOAJUDA – Até na hora de pedir ajuda, é bom ter cuidado, muito cuidado: não se emprega o hífen em palavras cujo prefixo ou elemento antepositivo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente. Então: autoajuda, autoescola, autoestrada, extraoficial, extraescolar.

FIQUE DE OLHO – O uso do hífen permanece nos compostos terminados por sufixos de origem tupi-guarani que representam formas adjetivas, como -açu, -guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica entre ambos: jacaré-açu; Ceará-Mirim; amoré-guaçu; manacá-açu.

SEPARANDO AS IGUAIS; JUNTANDO AS DIFERENTES – O hífen é um dos temas mais polêmicos e complicados da reforma. Eis uma mudança importante para quem quer se atualizar: emprega-se o hífen em vocábulos derivados por prefixação cujo prefixo termina pela mesma vogal com que se inicia o segundo elemento. Assim, “microondas” passou a ser “micro-ondas”, “antiinflamatório” mudou para “anti-inflamatório”, “autoônibus” virou “auto-ônibus”.

CHOVER – Na semana passada, a chuva causou transtorno em Natal. O verbo “chover”, empregado em sentido denotativo, indicando fenômeno da natureza, é impessoal, ou seja, não apresenta sujeito, ficando sempre no singular: “Choveu muito”; “Choveu por duas horas”. Contudo, quando empregado em sentido figurado, “aceita” plural: “Choveram aplausos para o artista”.

GRIPE SUÍNA – A gripe suína (já esquecida) popularizou o adjetivo relativo a porco. A língua portuguesa dispõe de muitos adjetivos de emprego incomum para referir-se a animais. Vejamos: “vulturino” (de abutre), “equestre” ou “equino” (de cavalo), leporino (de lebre), “simiesco” (de macaco), “apícola” (de abelha), “aquilino” (de águia), “asinino” (de asno), “lupino” (de lobo). Antes que eu esqueça, “porcino” é outro adjetivo relativo a porco.

É HORA DE REFORÇAR “A” CAIXA OU “O” CAIXA? – Devemos reforçar “a” caixa (no feminino), pois se trata de “reserva em espécie que uma empresa mantém em suas dependências para cobertura de pequenas despesas”, conforme nos ensina o dicionário Houaiss. “O” caixa – no masculino – é o livro comercial em que se registram as entradas e saídas de dinheiro, os créditos e os débitos. “De tanto andar, te cansaste, mas não disseste: “É inútil!” Recuperaste o vigor de tua mão, e por isso não enfraqueceste.”  Is 57,10

João Maria de Lima é mestre em Letras e professor de língua portuguesa e redação há mais de 20 anos.

profjoaom@gmail.com

Crédito da Foto: Reprodução / Ncultura

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