O petróleo que escorre

Para além de combustível para automóveis, é uma importante matéria-prima utilizada na fabricação de borrachas sintéticas, tintas e plásticos; substância oleosa, inflamável e de coloração negra ou castanho escura; quimicamente falando, constituído por átomos de hidrogênio e carbono, trata-se de um hidrocarboneto. Com essa caracterização, não é difícil adivinhar que estamos descrevendo o petróleo, cuja produção em terras potiguares ainda é importante fator de impulsão econômica para o estado. E essa participação pode aumentar.

Isso porque cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveram formulações que são candidatas promissoras para o aumento da produção em etapas de recuperação avançada de petróleo. Trata-se de uma nova composição química à base de duas substâncias, os surfactantes não iônicos e o álcool de natureza apolar, capazes de remover e deslocar o óleo pesado – o petróleo – impregnado em superfícies sólidas, especificamente de arenito.

No ano de 2020, o RN tem sido o berço do renascimento da indústria onshore no Brasil, contribuindo para que a bacia Potiguar mantenha o posto de maior produtora em terra do país – Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

Um dos inventores envolvidos, Dennys Correia da Silva, explica que o resultado é alcançado pelo fato das formulações modificarem a molhabilidade da rocha, permitindo que o óleo preso nos reservatórios tenha mais facilidade em se deslocar. Essa característica da nova tecnologia é importante pois o petróleo ocorre sempre em regiões da crosta formadas por rochas sedimentares, local onde, durante milhões de anos, detritos orgânicos acumularam-se e se transformaram em processos que levam a um aumento da temperatura e da pressão interna. Essas duas situações provocam o rompimento da rocha, fazendo com que o petróleo migre para cima através dos poros existentes nas rochas, até encontrar algo que o impeça de continuar se deslocando. “A formulação obtida retira com eficiência de até 99% o petróleo presente nas superfícies sólidas”, pontua Dennys Correia.

Ele acrescenta o fator ambiental para ampliar a área de aplicação da invenção, fruto da parceria entre o Laboratório de Tecnologia de Tensoativos (LTT/IQ/UFRN), o Laboratório de Reservatórios (LABRES/CTEC/UFRN) e a Petrobras. “Diferentes fatores e condições podem fazer com que o petróleo impregne em superfícies sólidas de maneira intensa e frequentemente destrutiva. Esse processo pode ocorrer naturalmente devido a diferentes condições de pressão e temperatura ou ocasionado por acidentes antrópicos, como derramamento de óleo em praias ou solos em geral, causando danos à formação rochosa e ocasionando alterações na molhabilidade, além de gerar altos níveis de toxicidade para o ecossistema”, destaca.

Formulação (ao centro) contempla certa quantidade de tensoativo, álcool e água para ativar as principais propriedades de limpeza e remoção – Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

Estudante bolsista de iniciação científica da Petrobras, Carolina Rayanne Barbosa de Araújo explica que o método de tratamento usado para a extração de petróleo depende da análise a respeito das características físico-químicas do solo ou da rocha a ser tratada. Assim, é pertinente encontrar sistemas economicamente viáveis e de fácil preparo que possam resolver esse problema. “Tensoativos sozinhos não conseguem penetrar suficientemente nos poros da rocha de modo a modificar a molhabilidade e remover o petróleo. Porém, na formulação, a passagem do tensoativo é facilitada e, com isso, maiores quantidades de petróleo são removidas”, esclarece.

Junto a Dennys, Guilherme Mentges Arruda, Marcos Allyson Felipe Rodrigues e Alcides De Oliveira Wanderley Neto, Carolina compõe o grupo de inventores responsável pela formulação. Sob a denominação Sistemas de microemulsão para extração e deslocamento de petróleo em rochas de arenito, eles protegeram a nova formulação através de depósito de pedido de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), no mês de abril.

Guilherme e Carolina manuseiam substâncias durante etapas de testes – Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

Coordenador do grupo e professor do Instituto de Química, Alcides Neto defende que o ato de patentear é fator de valorização do trabalho do pesquisador brasileiro. Embora ressalve que, em alguns casos, não ocorra uma ligação forte entre a indústria e a academia, “com o patenteamento, a própria invenção também é enaltecida de modo que as empresas conseguem ver com bons olhos o valor de algo que se encontra protegido e que, por isso, pode ser um forte candidato a resolver problemas reais de campo”.

Grupo de pesquisadores identifica que o objetivo final do projeto é encontrar formulações baratas e eficientes para serem utilizadas como fluidos de deslocamento em recuperação avançada de petróleo – Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

Fonte: Agecom/UFRN

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