Upgrade no reator

A UFRN recebeu, em outubro, do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI), o registro definitivo de mais uma concessão de patente: trata-se do projeto, confecção, instalação e funcionamento de um reator de cilindro rotativo para pirólise de biomassa seca triturada com o objetivo de produzir bio-óleo. Dito dessa forma, a invenção pode causar estranhamento no leitor, bem como pensamentos de natureza ficcional. Vamos por partes então.

Um reator é um tubo de aço inoxidável, com ranhuras nas paredes internas e, portanto, rotacionado com auxílio de um motor elétrico; já a pirólise é o processo de decompor determinado material por meio da energia térmica; e a biomassa será essa matéria, a ser decomposta, que serve como base para a produção de energia – exemplos de biomassa são os pós de capim elefante, de serragem, coco seco, esgoto doméstico, microalgas, cascas de arroz, bagaço de cana de açúcar e, pasmem, até restos de alimentos.

Bio-óleo é um dos resultados do processo – Foto: Cedida

No caso do invento desenvolvido na Universidade, o cientista João Fernandes de Souza identifica que um dos resultados obtidos é o bio-óleo, material de coloração escura que pode ser utilizado, após tratamento, como combustível automotivo, para aquecimento e para a geração de energia elétrica. Inclusive, as pesquisas demonstram que as máximas quantidades desse “líquido pirolítico” são obtidas operando o reator com elevadas taxas de aquecimento, moderadas temperaturas da reação da pirólise e curtos tempos de residência dos vapores pirolíticos e produtos voláteis formados. Outro produto alcançado é o fino do carvão, que após compactação, na forma de tijolos, pode ser utilizado em fornos de pizzarias e churrascarias.

Professor do departamento de Engenharia Química, ele pontua que o reator traz uma maior facilidade no manuseio da operação em relação a outros dispositivos existentes no mercado, melhorando a hidrodinâmica do processo, além de propiciar uma maior facilidade para desagregar a matéria-prima, facilitando as trocas de calor e massa e melhorando o rendimento do bio-óleo. Outra característica diferenciadora é que os reatores convencionais utilizados para pirólise rápida de biomassa triturada apresentam dificuldades como aderência dos finos de carvão, o que favorece o entupimento, a aderência e o bloqueio do fluxo do sistema de alimentação.

João de Souza realça o ineditismo da criação no âmbito das universidades federais – Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

A nova tecnologia conta com a participação também de Francisco de Assis Oliveira Fontes e Lúcio Ângelo de Oliveira Fontes, ambos professores do Departamento de Engenharia Mecânica, e é fruto de uma tese defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Gás e Petróleo da UFRN. “O maior interesse dos países em relação à pirólise está direcionado para a obtenção de produtos líquidos, devido à elevada densidade energética e potencial para substituir combustíveis líquidos derivados do petróleo”, relataram os pesquisadores no documento analisado pelo INPI para a concessão do registro de propriedade intelectual.

Tecnologia ambiental

Produto obtido é fruto de um processo que opera a uma temperatura de 500º a 600º – Foto: Pexels

O dispositivo teve seu processo de instalação concluído em 2013 e está instalado no Laboratório de Biomassa e Biocombustíveis do Departamento de Engenharia Química da UFRN, mesmo local onde foi desenvolvido. A nova tecnologia está envolta em um contexto global, o qual envolve a preocupação em encontrar combustíveis cada vez menos poluentes. Essa singularidade do reator reside no fato de que a utilização da biomassa significa, em outras palavras, o uso de um material renovável e com baixas quantidades de poluentes, uma vez que se faz uso de recursos muitas vezes inesgotáveis e que quase não alteram – ou nada alteram – a temperatura do planeta.

Números da UFRN

Chegando agora às 42 cartas-patente concedidas, a UFRN é a universidade líder no Norte-Nordeste nesse quesito, à frente de instituições com Índice Geral de Cursos similar ao seu, como a Universidade Federal do Ceará, a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Federal da Bahia. Em junho deste ano, em outro número conexo aos da inovação da Universidade, a Unesco, em seu Relatório de Ciência 2021, colocou a Instituição em um seleto grupo com maior número de depósitos de patente entre os anos de 2013 e 2018, ao lado de Unicamp, USP, UFPE e UFPR.

Na UFRN, a Agência de Inovação (AGIR) é a unidade responsável pela proteção e gestão dos ativos de propriedade intelectual, como patentes e programas de computador. Entre suas atribuições, a Agência de Inovação é responsável pela gestão da propriedade intelectual, transferência de tecnologia e ambientes promotores de inovação, acompanhando e estimulando, por exemplo, as atividades das incubadoras da Universidade, bem como as atividades dos parques e polos tecnológicos. Em tempos de pandemia, as orientações e explicações a respeito dos aspectos para patentear uma determinada invenção são dadas através do e-mail patente@agir.ufrn.br ou via aplicativos de mensagens, pelo telefone 99167 6589.

Fonte: Agecom/UFRN

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