Modelo comprova relação entre sífilis em gestante e sífilis congênita no Brasil

Mais de seis milhões de pessoas são diagnosticadas com sífilis, por ano, em todo o mundo. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) e alertam para os problemas de uma infeção sexualmente transmissível que pode, inclusive, ser transmitida da mãe para o bebê durante a gestação ou na hora do parto, configurando casos de sífilis congênita. Ainda de acordo com dados do levantamento, a sífilis congênita é atualmente a segunda principal causa de natimortos evitáveis em todo o mundo.

Para analisar esse cenário, pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais/UFRN), por meio do projeto Sífilis Não, desenvolveram um modelo matemático capaz de acompanhar esses casos, com a relação entre os casos de sífilis materna e sífilis congênita. O trabalho foi realizado em cooperação com pesquisadores da Escola de Saúde Pública do RN (ESPRN), médicos epidemiologistas e infectologistas e em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas (PPGDI) do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (CCS/Ufes).

Os resultados obtidos por esse modelo foram recentemente publicados na revista BMC Medical Informatics and Decision Making, no artigo Modelo de rede de Petri estocástica descrevendo a relação entre casos notificados de sífilis materna e congênita no Brasil (Stochastic Petri net model describing the relationship between reported maternal and congenital syphilis cases in Brazil). O trabalho é de autoria dos pesquisadores Ricardo Valentim Gleyson Caldeira, Rodrigo Silva, Gabriela Albuquerque, Ion de Andrade, Ana Isabela Sales-Moioli, Talita Pinto, Angélica E. Miranda, Leonardo Lima, Agnaldo Cruz, Daniele Barros e Anna Giselle Rodrigues.

O artigo descreve, matematicamente, a relação entre os casos de sífilis materna e sífilis congênita notificados no Brasil no intervalo de 2010 a 2020, considerando a probabilidade de diagnóstico e tratamento materno eficaz e oportuno durante o pré-natal, subsidiando a tomada de decisão e coordenação de esforços na resposta à sífilis.

O trabalho foi realizado tendo como ponto de partida o fato de que gestantes não tratadas ou tratadas inadequadamente podem transmitir T. pallidum para seus bebês em qualquer estágio da gravidez pela placenta ou durante o parto. Conforme aponta o artigo dos pesquisadores do Lais, embora o tratamento simples e simultâneo esteja disponível para a mãe e o feto em CP, somente em 2016 foram estimados 661.000 novos casos de sífilis congênita.

Outro dado relevante diz respeito aos casos de aborto provocados pela IST. Conforme levantamento, a exposição à sífilis no ambiente intrauterino pode culminar em graves implicações com desfechos gestacionais adversos em mais de 50% dos casos, como aborto espontâneo, natimorto, óbito neonatal e complicações precoces e tardias em nascidos vivos.

Para o diretor executivo do Lais e autor do artigo, professor Ricardo Valentim, o modelo construído pelos pesquisadores é baseado em inteligência computacional e analisa os dados coletados pela Vigilância em Saúde, no Brasil, quanto aos casos de sífilis em mulheres grávidas, relacionando-os com os casos de sífilis congênita. “Trata-se de um sistema que pode contribuir para que os gestores municipais e estaduais e também da União, por meio do Ministério da Saúde, possam olhar para o problema de saúde pública que é causado pelo não tratamento da sífilis na gestação e assim tomar medidas mais oportunas para ampliar a testagem entre mulheres gestantes durante o pré-natal, realizando o tratamento adequado para mitigar o número de crianças que nascem com sífilis congênita”, argumentou o pesquisador. “Esse tipo de artigo pode ajudar muito no processo de eliminação de sífilis congênita no Brasil e em outros países que tenham em sua agenda de saúde pública a eliminação da sífilis congênita”, finalizou.

Imagem: Reprodução

Fonte: LAIS/UFRN

Sair da versão mobile