A ditadura da felicidade pode causar ansiedade, frustração e depressão

A vida em sociedade gera um turbilhão de sentimentos e emoções que afetam as pessoas de forma contundente. As cobranças exageradas e descabidas causam dor. De tempo em tempo surge uma onda de verdade absoluta quando ela não existe. Quantos já sofreram e sofrem com a ditadura da magreza, da beleza física. Ultimamente o que vem impactando é a ditadura da felicidade. Há, inclusive, o livro “A ditadura da felicidade”, do psicólogo Edgar Cabanas e da socióloga Eva Illouz, que aborda com profundidade a temática.

Para a psicóloga, professora universitária e autora do livro Estresse em Advogados, Fátima Antunes, de fato está acontecendo uma espécie de pressão exigindo que as pessoas sejam felizes. Segundo ela, as redes sociais têm papel fundamental neste quadro. “Com certeza, as redes sociais são espécie de vitrine, porque as postagens dos bons momentos levam a acreditar que todos são muito felizes”, destaca Fátima Antunes, que define a ditadura da felicidade como uma obrigatoriedade de estar bem o tempo todo, de se sentir feliz, de estar sempre sorrindo e de não sofrer, camuflando o verdadeiro estado emocional da pessoa.

 

Psicóloga, professora universitária e autora do livro Estresse em Advogados, Fátima Antunes

Pelo andar da carruagem, ou melhor, da inovação tecnológica, parece que a pessoa não tem mais o direito de viver e tratar a sua dor. Seria proibido não ser feliz? A psicóloga Antunes esclarece que a felicidade é constituída por períodos. “A felicidade acontece em momentos da nossa vida. Ela é uma jornada e não o fim. A felicidade é o estar e não o ser. É viver o sentimento positivo e otimista que ocorre na nossa vida. Ser feliz é a maneira como encaramos o que passa em nossa volta”, explica a professora Antunes.

Diante da quase que obrigatória necessidade de sorrir para demonstrar aos outros que está feliz, a felicidade é uma conquista individual, ou o bem-estar está ligado à sociedade como um todo? Antunes afirma que a felicidade é uma conquista individual, mas, segundo ela, é pouco provável ser feliz se não há felicidade ao entorno da pessoa, ou seja, na sociedade. “Não existe sociedade feliz sem indivíduos felizes. É fato que nunca haverá unanimidade em relação a pessoas felizes, porque, afinal, cada pessoa é diferente da outra”, avalia.

Mas qual é o impacto da tal felicidade na sociedade humana? “A real felicidade tem um impacto muito positivo, porque ela gera movimento. Mas quando falo da real felicidade, estou me referindo ao sentimento verdadeiro de que as coisas possuem uma função de mudança em determinado aspecto. Quando uma pessoa está de fato feliz, ela movimenta outras pessoas para o mesmo sentimento”, analisa. Antunes disse também que a felicidade é um conceito polissêmico – que tem mais de um significado -, multidimensional e que faz conexão com diferentes áreas da nossa vida. Portanto, estar feliz em todas as áreas é um tanto quanto utópico. “Estar triste em todos os sentidos, sugere reflexão sobre as escolhas da vida”, destaca.

A exigência do sorriso e a sensação de não conseguir atender o estágio da felicidade podem gerar frustração, depressão, medo, baixa autoestima. A ditadura imposta pode adoecer a pessoa. De acordo com Antunes, a situação adoece a pessoa psicologicamente e por consequência desencadeia doenças físicas. “As pessoas que buscam a felicidade pelo parâmetro dos outros e não dos seus, vão adoecer. Cada pessoa tem seus próprios interesses e necessidades e, claro, deve buscar as suas próprias conquistas. Quando o outro possui e eu não possuo, acredita não ser capaz de alcançar conquistas. Isso gera frustração, ansiedade, pois faço um julgamento inadequado sobre mim, porque o meu parâmetro é o outro”, ensina.

Diante de um cenário causador de sofrimento, há como escapar da ditadura da felicidade? Antunes afirma que sim. “Faça uma lista das coisas que você quer conquistar. Ao lado de cada uma descreve o que precisa ser feito. A partir daí, siga as metas estipuladas. Não estou falando para não ouvir as pessoas a sua volta. Ouça, mas filtre o que realmente acredita ser importante para conquistar os seus objetivos”, orienta.

Antunes não concorda com o discurso de que devemos esquecer a felicidade individual e focar na alegria compartilhada. “A felicidade individual é o que move a sociedade para a alegria coletiva. Quando eu estou feliz, quero que todos estejam felizes comigo, pelo menos assim deveria ser. O problema não está com quem está feliz, o problema está com quem não está feliz, pois da mesma forma que quando as pessoas estão felizes querem companhia, quando as pessoas estão tristes, querem que todos estejam com ela nesta condição. Pessoas felizes carregam consigo a felicidade numa sacola cheia que vai transbordando felicidade pelo caminho”, define Antunes.

Imagens: Divulgação

Fonte: Assessoria de Comunicação

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