O que é melhor para a garotada no Dia das Crianças: presente físico ou reserva financeira?

Com a aproximação do mês de outubro, o comércio já se prepara para ganhar um gás a mais nas vendas. Afinal, por conta do dia 12, quando se comemora o Dia das Crianças, a expectativa é que o ritmo de compra de presentes ganhe força. Mas será que a data deve priorizar o presente físico como bonecas, jogos eletrônicos, celulares, bicicletas? De repente, a data também pode ser um bom momento para destacar que em tempos de economia em baixa, o presente pode sair do aspecto prático para lembrar que iniciar uma reserva financeira pode ser uma opção interessante, acompanhada de alegria e companheirismo.

Para o professor de economia Lauro Barillari, a meta deve ser estimular na criança, desde cedo, uma cultura de investimento, que significa, em outras palavras, saber gerir o recurso disponível com inteligência, pensando nos benefícios imediatos, sem perder o foco no futuro. “Dessa forma, uma sugestão interessante é, a partir de um orçamento definido pelos responsáveis, conversar com a criançada e decidir junto com elas qual parcela do dinheiro será gasta com o presente no Dia das Crianças, e qual ficará reservada para um desejo fora de época ou uma necessidade qualquer mais para frente”, sugere. Segundo ele, priorizar gastos e a formação de reserva financeira serão aprendidas pelas crianças, quando elas perceberem que abrir mão de algum desejo hoje pode garantir, mais pra frente, a realização de sonhos maiores, como, por exemplo, uma bela viagem.

Já a psicóloga e professora universitária, Fátima Antunes, considera que cada família terá a sua própria resposta. “Aos que podem investir em presentes físicos, neste momento, que o façam observando presentes que estimulem o desenvolvimento da criança. Os que podem estimular a reserva financeira de alguma forma, que estimulem para que a criança aprenda a guardar o recurso financeiro. Aqueles que tiverem condições de fazer as duas estratégias, certamente, estarão educando o filho para o futuro”, define Antunes.

Há os que pensam que abordar a importância da reserva financeira no Dia das Crianças é uma atitude sem propósito por conta de a data ser mais festiva do que educativa. De acordo com o professor Barillari, a cultura de poupança ajuda a garantir o futuro de uma sociedade. “Assim, a criançada precisa, desde cedo, entender o conceito de ‘poupar’ e praticar, mesmo em doses bem pequenas. O papel dos pais e responsáveis é muito importante, na medida em que no dia a dia surgem oportunidades de refletir sobre o consumo e as diferenças entre as necessidades reais e as criadas pelo mercado”, avalia.

Fátima Antunes aprova a importância da abordagem da reserva financeira no Dia das Crianças. Segundo ela, essa seria uma atitude positiva. “Considero muito relevante colocar em pauta a questão da poupança para a garotada, mas é preciso fazer com que a própria criança faça isso. É importante dar mesada ou semanada, e, os pais, incentivarem os filhos a guardarem parte do que eles estão ganhando”, frisa Antunes. Barillari defende que a abordagem em casa deve ocorrer, naturalmente, através do diálogo, dos exemplos, da participação da criança na gestão e controle do orçamento e contas do lar, da ressignificação de brincar e da formação de consciência sobre o consumo sustentável e responsável.

Para a psicóloga Antunes, dar uma quantia em dinheiro para o filho ou a filha deve ser acompanhada de um diálogo sobre o porquê de estar recebendo a mesada, por exemplo. Segundo ela, é uma oportunidade também de estimular a guardar parte para comprar algo que deseja muito. ” Pode ser que o valor que a criança tenha recebido não seja alto, mas se ela tiver uma parte, já a faz entender que ela está participando ativamente do processo. É a partir do exemplo que se educa a criança. Por isso, tendo ou não limitações financeiras, fazer com que a criança viva este processo de aprendizado é de grande valia”, argumenta Antunes.

Os defensores da ideia da reserva financeira como presente para o Dia das Crianças têm como argumento ajudar as crianças a realizarem outros sonhos ou necessidades, como pagar os estudos, um curso ou uma viagem ou mesmo iniciar um empreendimento que lhes garanta o futuro. Barillari ressalta que o principal argumento de poupar consiste na obtenção de benefícios futuros. Sejam eles representados pela compra de um bem mais valioso, de uma bela viagem ou, até mesmo, a geração de uma renda após um determinado período de contribuição. “Uma criança, muitas vezes, tem dificuldade de enxergar o futuro, portanto a sugestão é que esse futuro, inicialmente, seja próximo, para ela se animar e aprender que pode ter muitas alegrias poupando e decidindo com inteligência sobre o seu consumo. Certamente, a criançada levará esse aprendizado para sempre, com maiores chances de ter uma vida financeira equilibrada ou mesmo de empreender com sucesso”, estima Barillari.

Nesse ponto, Antunes considera que a criança não vai pensar em estudos futuros. Para ela, cada coisa no seu tempo. “Para ajudar a entender a relevância da reserva financeira, as necessidades da criança em cada idade precisam ser consideradas. Aos sete ou oito anos, aos 12 ou 15 anos, aos 18 anos, porque cada idade possui necessidades diferentes e trabalhar com o momento é muito mais motivador”, explica e finaliza com uma observação: “Uma coisa fundamental é valorizar os resultados positivos da criança e o que ela fez de bom. Jamais dizer que ela não está fazendo mais do que a obrigação dela”.

O assistente administrativo Sérgio da Rocha, 24 anos, pai do menino Gustavo Araújo Pereira, de quatro anos, é um dos defensores da ideia da reserva financeira como presente no Dia das Crianças, porém, segundo ele, tanto o presente físico quanto a poupança são importantes. “Embora mudanças no pensamento da criança ocorram com mais frequência, impactando gostos e desejos, a médio e longo prazo acredito ser relevante ter uma quantia disponível a fim de dar o que mais irá agradar ao meu filho no momento da surpresa. A longo prazo acredito que a reserva financeira seja interessante para o futuro, para aplicar em um curso, em uma faculdade ou em algo que seja importante para ele”, projeta Sérgio da Rocha.

Ele conta que presenteia o Gustavo Araújo desde os dois anos de idade. “Junto mensalmente um valor a longo prazo, para quando ele estiver com 18 anos possa decidir o que fazer com a renda. Esse ano, por volta de maio, comecei a juntar um valor de prazos mais curtos, para presentes e passeios e também para ter um controle melhor sobre minha vida financeira”, explica. Essa atenção em economizar para o futuro é um aprendizado que Rocha adquiriu com os pais. “Em minha casa, meus pais sempre conversavam sobre a importância de juntar para alcançar os objetivos e, ao mesmo tempo, juntar para ter reservas, seja de emergência quanto para fins maiores futuramente”, afirma com satisfação.

Pai prevenido, Rocha ainda não definiu qual será o presente para o filho no dia 12 de outubro, além da reserva financeira que já é um fato na educação do garoto. Adepto da filosofia da prática do companheirismo e criatividade, Rocha acredita que uma boa opção é explorar o universo dos dinossauros. “O Gustavo ama dinossauros. O caminho é buscar um passeio do tipo um brinquedo ou roupa de dinossauro para ele”, conta o pai com um sorriso largo no rosto.

Em épocas passadas, de acordo com Rocha, ele mesmo sabendo da importância da reserva financeira, por ser tudo bem mais difícil, não realizou a economia. “Foi um erro meu. Acredito ser comum acontecer em alguns casos. Ainda sim tive tempo de me organizar e pensar sobre essa questão, começando com meu filho e depois priorizando os objetivos mais pessoais. Com a reserva, consegui quitar algumas dívidas e investir em cursos e certificações”, finaliza.

Imagens: Divulgação

Fonte: Assessoria de Comunicação

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