Grandiosa e inovadora: Escola de Ciências e Tecnologia completa 15 anos

Em dezembro de 2023, a Escola de Ciências e Tecnologia (ECT) completou 15 anos da sua criação, conforme Resolução Nº 012/2008-CONSUNI de 1º de dezembro de 2008, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Essa Unidade Acadêmica Especializada é responsável por um dos projetos mais ousados e grandiosos da Universidade: o curso de Ciências e Tecnologia (C&T).

Inspirado no modelo europeu de Bolonha, o projeto fazia parte de uma série de bacharelados interdisciplinares criados em todo o Brasil, como medida do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), de 2007, instituído pelo Governo Federal. O objetivo era proporcionar uma formação básica científica e tecnológica para cursos de Engenharia e, assim, reduzir a evasão de estudantes na área.

O início de um sonho ousado

Prédio da ECT em construção

A história da ECT tem origem numa discussão antiga da área de Engenharia sobre a necessidade de uma formação científica básica e unificada para os estudantes que ingressam nesse espaço. Nos departamentos de Engenharia da UFRN, uma proposta de curso que atendia a essa necessidade já havia sido elaborada, mas descartada. Com a chegada do Reuni, essa proposta foi retomada pela Reitoria no ano seguinte, que propôs não apenas a criação do curso de C&T, mas de uma unidade acadêmica que desse o suporte necessário ao projeto.

Para elaborar a proposta do que viria a ser a ECT e o curso de C&T, o então reitor da UFRN, José Ivonildo do Rego, convidou o professor Enilson Medeiros dos Santos, do Departamento de Engenharia Civil, que posteriormente assumiria a primeira direção da escola. O ex-diretor conta que o projeto era inédito na UFRN: “A Universidade tinha algumas unidades acadêmicas especializadas, mas nenhuma tinha a configuração de imbricação total entre o pedagógico e o administrativo”. Essa configuração deu autossuficiência à ECT, pois abarcava, em um só prédio, as salas de aula, os laboratórios, as secretarias e as salas de professores.

O modelo de formação do curso em dois ciclos era inovador e se inspirava no Processo de Bolonha utilizado no ensino superior da União Europeia desde a década de 1990. “A gente pensou na possibilidade de que [o curso] tivesse o caráter europeu, ou seja, de formação forte na área de ciências básicas da engenharia, mas que também desse uma formação profissional. Essa possibilidade do aluno se profissionalizar, a partir dessa primeira graduação de três anos, virou o Bacharelado em Ciências e Tecnologia”, explica Enilson.

Além disso, o tamanho da ECT era outro grande diferencial. A primeira turma de estudantes a ingressar no curso de C&T, no segundo semestre de 2009, era composta por 500 alunos, com previsão de mil vagas por ano. De acordo com dados do e-MEC, o Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia da UFRN é, até hoje, o maior curso de graduação do Brasil. E ainda que o número de vagas tenha sido reduzido com o tempo, mais de três mil estudantes se formaram ao longo desses 15 anos.

O professor e vice-diretor Marcos Dias, ao lado de Enilson, era responsável por tocar a parte administrativa da ECT. Ele conta que uma das preocupações naquele início foi onde colocar todos os alunos, já que o prédio ainda estava em construção. À época, foram disponibilizados anfiteatros do Centro de Ciências Exatas e da Terra (CCET) e do Centro de Biociências (CB) da UFRN. “As provas eram realizadas aos sábados no Setor de Aulas 4. Parecia um minivestibular. Mobilizavam-se todos os professores da escola, a direção e os funcionários para aplicar essas provas”, relembra o professor.

Somente em agosto de 2010, o prédio, ainda coberto por tapumes e com obras por finalizar,  foi ocupado pelos estudantes e pelos servidores. Em abril de 2011, na presença do então Ministro da Educação, Fernando Haddad, a Escola de Ciências e Tecnologia foi inaugurada.

Primeira turma de alunos do curso de Ciências e Tecnologia

Um sonho que se constrói em conjunto

Apesar de ter sido, inicialmente, elaborado junto com a proposta de criação da ECT, o Projeto Pedagógico (PP) do curso de C&T foi reformulado pelo corpo docente e técnico-administrativo da ECT. “Normalmente, quando um professor ingressa numa universidade para lecionar, o projeto pedagógico já está pronto. No caso do bacharelado em C&T, não. Existia um projeto inicial, mas como as aulas só iriam começar no segundo semestre e nós entramos em janeiro, foi dada a possibilidade de alterar o projeto pedagógico para que ele tivesse a cara dos professores que estavam entrando”, comenta Rex Medeiros, primeiro coordenador do curso de C&T, entre os anos de 2009 e 2011, e primeiro diretor eleito da ECT para o mandato de 2011 a 2015.

O desafio era ainda maior ao considerar que a maioria dos docentes estava em sua primeira experiência no magistério superior. Isso ajudou a moldar o perfil da Escola. “Queríamos iniciar uma coisa nova, sem os vícios que tínhamos nos nossos departamentos”, comenta Enilson.

“Eu costumo dizer que é mais fácil pegar uma situação com o trem já andando, mas quando vamos montar tudo do zero, já fica mais difícil. Tivemos de nos virar para aprender tudo, mesmo sem ter qualquer experiência, mas sempre dispostos a servir, ajudar, atender com educação e carinho cada um que passou por nosso setor. Isso fez toda diferença para quem atendemos e para cada um de nós mesmos”, reflete Ana Rosa de Mendonça, primeira servidora técnica administrativa da ECT.

Ainda que fosse um grande desafio, muitas decisões importantes para o funcionamento da ECT e do curso foram tomadas naqueles primeiros seis meses, como a criação das câmaras temáticas, a estrutura dos laboratórios e das salas e os componentes curriculares que precisavam se adaptar à realidade do novo curso. Segundo o professor Filipe Borges, da primeira turma de docentes da ECT, à época, ele e a professora Tatiana Bicudo se dividiam entre elaborar o componente de Química, inicialmente denominado Química Tecnológica, e montar o laboratório, solicitando materiais e orientando a sua construção.

Ele conta ainda que aquele período inicial foi muito importante para que os professores das diferentes áreas construíssem laços e também parcerias entre os componentes curriculares de forma interdisciplinar, aspecto importante na identidade do curso de C&T e da própria ECT.

Sobre isso, a professora Glícia Azevedo, que foi vice-diretora ao lado de Rex e uma das responsáveis por criar a área de Práticas de Leitura e Escrita, comenta que “um dos maiores desafios de quem trabalha na ECT é pensar de forma inter, multi e transdisciplinar, numa formação transdisciplinar, quando, na verdade, a própria formação foi disciplinar. Para isso, tem de sair da caixinha da formação específica e começar a dialogar com outras áreas, traçando possibilidades de parceria”.

Registro do Laboratório de Ensino de Química da ECT durante a construção do prédio

Um projeto que vem dando certo

Ainda que a ECT tenha sido criada para dar suporte ao curso de C&T, a graduação é apenas uma parte do que a Escola é hoje em dia. Ao longo dos anos, novos projetos foram surgindo para agregar conhecimento e inovação à Universidade e à sociedade.

Atualmente, a ECT conta com três Programas de Pós-graduação: Ciência, Tecnologia e Inovação (PPgCTI), criado em 2015; Programa Nacional de Mestrado Profissional em Ensino de Física (MNPEF), também de 2015; e o mais recente, Engenharia Aeroespacial (PPGEA), implementado em 2019.

Além disso, um dos eixos mais fortes da ECT desde a sua concepção é a inovação. A unidade vem se destacando e se tornando referência no setor de empreendedorismo e de negócios tecnológicos. A criação da Câmara de Negócios Tecnológicos e de projetos como a Empresa Júnior da Escola de Ciência e Tecnologia (EJECT), a Incubadora de Processos Acadêmicos, Científicos, Tecnológicos e Aplicados (InPACTA) e o próprio PPgCTI tem contribuído para a inserção de egressos da ECT no mercado de trabalho, a partir de ideias gestadas dentro da Escola e da Universidade, as quais visam mudanças na sociedade. De acordo com o professor Efrain Pantaleon Matamoros, envolvido na criação de várias dessas iniciativas, esses projetos ajudaram a moldar uma identidade para a ECT, para o curso de C&T e para as pessoas lá formadas.

Zulmara de Carvalho, docente que participou da criação e da gestão do PPgCTI, e também atuou na InPACTA, vai na mesma linha. “A ECT tem um papel muito importante na formação de recursos humanos estratégicos para o país. Isso tem de ter mais visibilidade, mais oportunidades para a escola apresentar suas potencialidades, que são inúmeras”.

Outro ponto forte da ECT está nas atividades de pesquisa e de extensão realizadas na unidade. Devido ao aspecto multidisciplinar dos seus cursos, a produção de conhecimento científico tem se destacado nacional e internacionalmente. Essas atividades vêm proporcionado um diálogo contínuo e valioso com a comunidade acadêmica interna, bem como com a sociedade em geral.

“Nós temos muitos alunos egressos espalhados pelo mundo e se destacando como profissionais. Isso mostra que os nossos cursos promovem uma boa formação”, destaca a professora Kaline Viana, atual diretora da ECT.

O que esperar do futuro

Em 2023, o curso de C&T recebeu, pela primeira vez, o conceito 5, o máximo na avaliação de cursos de graduação promovida pelo MEC. Para a diretora, isso é uma construção desses 15 anos de história e o resultado do esforço de todos os que integram o curso. Então, é natural ter como um dos objetivos, para os próximos anos, a manutenção dessa nota.

No entanto, a ECT é muito mais do que o curso de graduação. Nesse sentido, outro desafio destacado pela diretora é tornar a ECT reconhecida não apenas pelo tamanho ou pelo número expressivo de universitários que agrega, mas principalmente pelos projetos desenvolvidos, seja na graduação, na pós-graduação, na extensão ou na pesquisa.  Esse reconhecimento deve vir de dentro da universidade e de fora dela, a nível nacional e internacional. “A ECT foi criada pra ser gigante. E os nossos desafios também são grandes, naturalmente”, reflete a professora Kaline.

Imagens: Filipe Borges

Fonte: Agecom/UFRN

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