Iniciativas de Educação em Saúde modificam cenário de vulnerabilidade do Brasil e do mundo

Há pouco mais de dois anos, a nação de Mianmar, antiga Birmânia, enfrenta uma grave crise humanitária. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o país já contabiliza cerca de três mil mortos e inúmeras restrições aos direitos básicos da população, como saúde e educação, impedindo, inclusive, que estudantes frequentem as universidades. Os esforços para minimizar a situação vêm de todo o mundo. A exemplo disso, o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da UFRN (LAIS) participa da elaboração de um curso para estudantes de Medicina birmaneses, que tiveram seus estudos interrompidos.

A formação, que será ofertada no Ambiente Virtual de Aprendizado do Sistema Único de Saúde do Brasil (AVASUS), é fruto de uma cooperação técnico-científica internacional entre o LAIS, a Universidade de Parma, na Itália, e a Rede Unida do Brasil. Chamado Emergency Care Medicine, o curso oferece 60 horas de duração, tendo como ponto de partida o módulo Suporte Básico de Vida, que já conta com mais de 50 mil alunos matriculados no AVASUS.

O grupo de pesquisadores italianos, brasileiros e birmaneses procurou entender o contexto e quais eram as necessidades do público-alvo. “Por meio de estudos bibliográficos e de um questionário on-line aplicado junto aos estudantes, obtivemos um perfil com informações básicas e também quais eram os assuntos que eles desejavam se aprofundar”, afirmou Clelia D’Apice, doutoranda da Universidade de Parma e uma das organizadoras do curso.

Previamente, o LAIS participou de outras experiências internacionais exitosas, como o curso para agentes voluntários de saúde da Tanzânia. Por isso, a Rede Unida e a Universidade de Parma buscaram firmar parceria com o Laboratório para viabilizar a continuidade dos estudos de acadêmicos de Medicina em Mianmar. “Com estratégias de Educação e Comunicação adequadas a cada contexto, conseguimos produzir Recursos Educacionais Abertos (REAs), que colaboram com a formação humana em saúde e também posicionam o LAIS como um importante ator no enfrentamento de questões de saúde global”, explicou a pesquisadora do LAIS, Kaline Sampaio. O curso Emergency Care Medicine estará disponível no AVASUS em abril de 2024, em inglês, de forma aberta.

O processo de elaboração do material didático foi um dos temas discutidos durante o 15º Workshop Internacional Dispositivos operacionais para assistência territorial baseada na proximidade e no trabalho em equipe multiprofissional, promovido pelo Laboratório Ítalo-Brasileiro de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva na região Emília-Romanha italiana. Entre os participantes, estiveram presentes as pesquisadoras do LAIS Aline Pinho e Kaline Sampaio, responsáveis por relatar os trabalhos desenvolvidos no Rio Grande do Norte no Brasil.

Experiência com o sistema prisional em foco

Outra experiência relatada pelas pesquisadoras do LAIS durante o evento foi a construção de uma trilha formativa direcionada para questões de saúde e sociais no sistema prisional. Fruto da pesquisa de doutorado Um olhar além do concreto: formação humana mediada por tecnologia para a saúde no sistema prisional, da pesquisadora Janaína Rodrigues, egressa da UFRN e doutoranda na Universidade de Coimbra, em Portugal.

Pesquisadoras do LAIS relataram experiências com sistema prisional

Com arcabouço teórico e prático, o trabalho elaborou, no AVASUS, uma trilha formativa, isto é, uma sequência de cursos, ofertados levando em consideração a tríade policial penal, pessoa privada de liberdade e profissional de saúde. Ao todo, já se matricularam mais de 50 mil pessoas na trilha, grande parte delas privadas de liberdade, dado que se destacou durante o Workshop Internacional.

De acordo com Aline Pinho, os temas discutidos no evento ressaltam a importância de se discutir educação em saúde em contextos de crise humanitária e vulnerabilidade social. “Falamos da relevância da educação como forma de promover a democracia. Os resultados da pesquisa surpreenderam estudantes e professores de vários lugares do mundo, que demonstraram interesse em obter mais informações sobre o trabalho desenvolvido no sistema prisional, o que aponta para futuras parcerias nesta área”, ressaltou a pesquisadora.

Imagens: Divulgação

Fonte: ASCOM/UFRN

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