‘WiFi Ralph – Quebrando a Internet’: crítica

Sequências costumam esbarrar em um problema grave. Mais do que apresentar uma história suficientemente interessante para justificar o retorno de personagens conhecidos, elas precisam encontrar uma solução para o fato de que o arco dramático do protagonista teoricamente já se resolveu no filme anterior.

Matrix Reloaded e Matrix Revolutions (ambos de 2003) ilustram bem o fracasso nesse quesito. Com a jornada de Neo (Keanu Reeves) concluída, as irmãs Wachowski acabaram recorrendo a uma trama intrincada e pretensiosa para tentar esticar a trajetória do herói. Tudo o que conseguiram foi deixar a impressão de que mostrar qualquer evento posterior ao longa-metragem original (1999) era totalmente dispensável.

Em outros casos, os realizadores adotam o caminho mais fácil: a repetição. Um exemplo recente é Jurassic World: Reino Ameaçado, em que os personagens de Chris Pratt e Bryce Dallas Howard praticamente se limitam a recriar a mesma dinâmica de odd couple, chegando ao cúmulo de encenar sequências estruturalmente idênticas a outras vistas em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015).

Pois WiFi Ralph: Quebrando a Internet escapa dessas armadilhas ao manter a coerência com o primeiro filme e, ao mesmo tempo, fazer a narrativa avançar de maneira envolvente. Passados seis anos, tudo parece em paz no fliperama Litwak. Mas quando um incidente ameaça o jogo Corrida Açucarada, Ralph (John C. Reilly) e Vanellope (Sarah Silverman) partem em uma aventura pela internet para salvá-lo.

Esperto, o roteiro escrito por Pamela Ribon e Phil Johnston (também codiretor, ao lado de Rich Moore) usa os elementos previamente estabelecidos para motivar a ação e o drama, fazendo com que os dois protagonistas, bem como o relacionamento entre eles, se desenvolvam ainda mais. A busca por identidade — tema central de Detona Ralph (2012) — é retomada, desta vez explorando-se questões como insegurança e dependência.

São tópicos surpreendentemente profundos para uma animação, porém, tudo é colocado com leveza e humor, na medida certa. O mesmo pode ser dito da crítica ao aspecto muitas vezes fútil da criação de conteúdo na internet — que, na versão do filme, ganha uma espécie de guru na figura de Yesss (Taraji P. Henson), chefona da plataforma de vídeos BuzzTube. Aliás, ao contrário do longa anterior, em que as referências ao universo dos games eram pouco mais do que easter eggs, aqui, as piadas com a rede mundial de computadores e a indústria do entretenimento se mostram bem integradas ao enredo.

O encontro com as princesas da Disney, por exemplo, é essencial para a autodescoberta de Vanellope, além de se desdobrar em algumas das passagens mais mordazes e engraçadas do filme. Sem falar na já antológica reunião das vozes originais de Ariel, Bela, Jasmine, Pocahontas, Mulan, Tiana, Rapunzel, Merida, Elsa, Anna e Moana, com as atrizes Jodi Benson, Paige O’Hara, Linda Larkin, Irene Bedard, Ming-Na Wen, Anika Noni Rose, Mandy Moore, Kelly Macdonald, Idina Menzel, Kristen Bell e Auli’i Cravalho reprisando seus papéis. A elas, se juntam Jennifer Hale, Kate Higgins e a roteirista Pamela Ribon como o trio clássico formado por Cinderela, Aurora e Branca de Neve.

O elenco conta ainda com nomes consagrados como Gal Gadot, Alfred Molina e Bill Hader (além da participação especial de outros três que é melhor não mencionar para não estragar a surpresa), bem como a volta de Jack McBrayer, Jane Lynch e Alan Tudyk — os dois primeiros, novamente interpretando, respectivamente, Felix e Calhoun; o último, dando voz a um novo personagem, Sabe-Tudo.

Claro que isso acaba se perdendo na versão dublada. Todavia, o elenco nacional mais uma vez compensa com performances excelentes, em especial, a dupla central e o pop-up J.P. Spamley. Também merece elogios a adaptação do texto, que consegue inserir tiradas exclusivas para o público brasileiro e ainda rende momentos como a hilária interação de Ralph com o cybertraficante Doisberto.

Na dúvida entre assistir ao filme em inglês ou português, vale até ir duas vezes ao cinema — afinal, WiFi Ralph: Quebrando a Internet pertence ao seleto clube das sequências que superam o filme original.

Fonte: Jovem Nerd

Imagem: divulgação/reprodução

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