CRÔNICAS DA VELHA RIBEIRA (10)

O empresário Roque Araujo de Azevedo, foi um dos homens de negócios mais bem sucedidos aqui na terrinha. E, também, um dos mais conhecidos personagens da paróquia, não pelo seu nome próprio e registrado em cartório e sim, pelo apelido DUDU, adquirido nos tempos em que transportava em seu carro de praça os americanos que vieram para Natal no tempo da Segunda Guerra Mundial. Esse epíteto – pré-americanista – deve ter sido um refresco para os gringos, pela facilidade da sua pronúncia, na língua do Tio Sam.

Homem de muitas posses, DUDU sempre se portou com aquela simplicidade comum aos grandes: sem nenhuma vaidade, sem nenhuma frescura. Seu universo eram os negócios, que passou apenas a supervisionar quando, gradativamente, começaram a ser tocados pelos filhos Ronaldo e Ricardo, coadjuvados pela filha Mônica e chefiados pela matriarca Dona Maria Ribeiro de Azevedo (Dona Maria Maluf), que controlava, com mão de ferro, o caixa do grupo, a família e os amigos. Dentre estes, os mais chegados costumavam reunir-se na sede de sua Locadora de Automóveis na confluência dos bairros da Cidade Alta e Ribeira, aos sábados à tardinha, para a agradável tarefa de jogar conversa fora e beber água mineral “São Roque”, que jorrava de uma fonte inexplorada localizada em sua fazenda nos arredores do aeroporto Augusto Severo, em Parnamirim (RN).

DUDU era metódico em seus costumes e tinha como “hobby”, colecionar relógios de parede e de algibeira. Ao longo dos anos, acumulou grande acervo dessas peças, algumas de valor inestimável.

Gostava, também, de automóveis e possuía vários Volkswagens antigos, além de um Mercedes-Benz. Mas seu “xodó” e seu meio de transporte diário, era um Fusquinha 1966 vermelho, pelo qual nutria clara preferência em relação aos demais modelos que guardava.

Entre seus hábitos, estava o de ir ao aeroporto Augusto Severo – onde mantinha um box de serviços – religiosamente aos domingos à tarde, mas com tempo suficiente para, na volta, descer à Ribeira para um papo no Hotel Central do amigo Geraldo Sá na rua Câmara Cascudo, com os mesmos frequentadores de sua locadora.

E, duas ou três vezes durante a semana, costumava vir ao bairro para nos visitar, na Marpas e encontrar outros amigos na Tavares de Lira, especialmente às quintas-feiras, quando tinha casamento coletivo no cartório de Hugo.

Pois foi num desses dias, que ele foi visto guiando seu Fusquinha 1966, por um sujeito que o conhecia de vista e que – àquela hora – servia de testemunha a um dos vários casamentos no civil que se realizavam no cartório e, enquanto esperava sua vez, foi refrescar-se com uma cerveja geladinha em um bar, no outro lado da rua.

Ao ver DUDU passar no carro, comentou com alguém ali presente: … “tá vendo aquele velhinho, ali no Fusca?” Perguntou ao vizinho, com ar de extremo compadecimento e, sem esperar reação do perguntado, emendou com completo desconhecimento de causa: “coitado, trabalha duro há mais de sessenta anos e tudo que conseguiu foi aquele carrinho…Mas, olha como ele vai Feliz da vida!

Imagem: Reprodução/YouTube

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