O ódio não tem partido

Imagem: iStock

A política brasileira conseguiu disseminar um ódio visceral entre a população do país, como jamais se viu. São famílias dilaceradas por rixas partidárias, amizades desfeitas por discursos flamejantes em redes sociais, diálogos que nunca serão estabelecidos pelo simples fato de seus interlocutores pertencerem a castas ideológicas diferentes. E, em berço esplêndido, graceja a imbecilidade com o injustificável desrespeito ao pensamento do outro.

Não faltam argumentos, achismos e vozes dispostas a grasnar desculpas para todo esse clima ruim – logicamente jogando a culpa no lado adversário. Porém, não estou me referindo aos erros cometidos pela direita ou a esquerda brasileira, mas sim ao engano que é tipificar como inimigo todos aqueles que não professam as mesmas crenças. Eis aí a receita certa para criar um ambiente político irrespirável e improdutivo para todos os lados.

É muito pouco receber por “ouro” uma realidade onde a reflexão não tem valor e nos resta apenas anuir e endossar um contrato pronto. A mente humana foi capaz de criar inúmeras teorias, escolas e ideologias ao longo dos séculos, então por que razão deveríamos nos dar por satisfeitos com apenas dois caminhos que clamam para si o posto de “palavra final” sobre tudo?! A falta de paz que paira entre nós, brasileiros, deveria ser sinal suficiente de que uma “terceira via” se faz necessária.

Quanto mais de violência, morte e desamor teremos que assistir até nos convencermos de que o ódio jamais será um caminho aceitável? Danem-se a esquerda, a direita, o centro e qualquer outra classificação que ouse se antepor a vida humana e a paz entre os indivíduos. Sim, pois a história é fidedigna testemunha de que, todas as vezes em que a humanidade se esqueceu dessa simples regra de prioridade, construiu para si um ciclo de tragédia.

Não nos enganemos: o ódio não possui siglas, ideologias, institucionalismos ou quaisquer coisas do tipo, apenas se serve destas. Como sentimento, necessita que tais coisas lhe concedam pele, gordura e nervos, tornando-o palpável em atos e posturas, culminando em destruição encarnada. Um Brasil melhor apenas será possível com a priorização da vida pelos indivíduos, sem que qualquer classificação ideológica lhe anteceda ou encubra a identidade de ser humano. Ah, e sem ódio também… já ia me esquecendo.

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