Números, números e mais números…

A lógica nefasta de nosso presidente e a de seus seguidores não cansa de me surpreender. Especificamente em relação às vítimas brasileiras do Covid-19, vemos um misto de descaso travestido de “pensamento positivo” às avessas, minimizando as devastadoras perdas de vidas simplesmente colocando os quantitativos de curados em oposição a de falecidos. A matemática não fecha.

Essas pessoas se esquecem que, por trás da fria estatística, estão pessoas. O que diria Bolsonaro, por exemplo, se a porcentagem “1,8%” representasse, na verdade, o falecimento de um de seus filhos no universo de 554.626 óbitos confirmados pelo vírus? Parece um número inexpressivo, estatisticamente falando, mas tenho certeza de que lhe bastaria para se configurar numa perda irreparável. Assim grita a razão, tão óbvia, aos ouvidos desse homem e sua “seita”, mas eles estão surdos a qualquer voz e o Brasil inteiro sofre – com a pandemia e a indiferença presidencial.

Façamos um outro exercício imaginativo, desta vez utilizando uma lógica militar – a preferida deste governo. Digamos que, ao invés de uma pandemia, estivéssemos falando de um conflito armado: a subtração simplória (mortos menos sobreviventes) justificaria não honrar os que tombaram em batalha? A história militar e suas datas comemorativas dizem que não. Os EUA, por exemplo, perderam “apenas” 58 mil pessoas (0,026% da população americana em 1975) durante a guerra do Vietnã, enquanto 216 milhões de americanos (ou seja: 99,74%) permaneceram seguros em seu país… nem por isso deixaram de construir um monumento aos combatentes (com os nomes de todos os estadunidenses mortos na guerra), enterrá-los com honra no Cemitério Nacional de Arlington e reverenciarem anualmente a memória dos que se foram. Mas, seguindo o raciocínio Bolsonarista, o governo norte-americano poderia ter “economizado” e apenas focado no mantra: “58 mil morreram (0,026%), mas 216 milhões (99,74%) sobreviveram, não somos coveiros!”.

A verdade é que, na boca de Bolsonaro e sua “tchurma”, a tríade “cristianismo – família – moralidade” não passa de mera hipocrisia retórica. Pois, onde estão esses “pilares” nas atitudes deles, ao tratarem das perdas de vidas pelo Covid-19?! Para onde foi a misericórdia cristã? E que “família” é essa, que faz pouco caso e/ou relativiza a morte dos seus entes?! Que tipo de “moral” desprezível embasa e justifica todo esse absurdo? O que esses “falsos profetas” estão fazendo, de fato, é desvirtuarem e distorcerem tais valores. E a história se encarregará de dar a eles o devido lugar: o mais profundo e vergonhoso opróbrio.

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