“O instrumento quase celestial”: o violoncelo na vida de Jenilson Soares

“Um som potente e tocante, graves que massageiam e agudos que perfuram”. Dessa forma, Jenilson Soares da Silva, de 24 anos, descreve o violoncelo. Em 2018, tornou-se aluno do curso técnico de violoncelo na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN) e, desde 2019, é estudante bolsista do grupo musical UFRN Cellos, projeto que divulga instrumento e repertório para a formação e peças de compositores potiguares. No ano passado, Jenilson fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e tirou 960 na redação. Agora, sonha em cursar Física ou Música na UFRN.

Jenilson é morador do bairro de Mãe Luiza, os pais são falecidos e ele sobrevive com auxílio da bolsa de extensão do grupo UFRN Cellos. O discente conheceu o instrumento por meio de vídeos no YouTube, mas começou a tocar no projeto social Centro Suzuki, de Natal, em 2015. “Através de uma aula teste do processo de seleção do projeto social em que os professores faziam testes de musicalidade e manuseio do instrumento com os alunos para testar suas habilidades na música, me apaixonei pelo violoncelo. Estava até em dúvida em aprender outro instrumento, mas depois desse primeiro contato foi que decidi. Depois disso, passei no processo”, relata o musicista.

“Parece clichê, mas desde criança sempre gostei de ouvir música. Para tudo que eu fizesse, tinha que estar escutando alguma canção ou cantarolando. Lembro de uma situação que pode descrever mais ou menos, o que me encanta na música: em um culto na igreja, vi uma menina tocar violino lindamente com o coral. Enquanto ouvia a moça tocar, algo me tocou e fiquei muito emocionado, tanto que comecei a chorar. Daí, surgiu o interesse de aprender um instrumento, pois eu queria provocar a mesma emoção nas pessoas que aquela violinista me passou. Após começar a estudar o violoncelo, isso aflorou ainda mais em mim. É difícil de descrever, mas a música me toca muito, me deixa muito feliz e o violoncelo particularmente tende a enaltecer essa emoção. Isso, pois, na minha opinião, é instrumento extremamente completo, com um som potente e tocante. Para mim, é imponente e costumo chamá-lo de ‘instrumento quase celestial’”, comenta o artista.

Para passar no Curso Técnico, foram três anos de preparação. Em 2018, foi aprovado. O momento foi complicado, por, na época, conciliar o trabalho e os estudos. Meses depois, ainda em 2018, saiu do emprego para focar no curso.

“A UFRN é uma das poucas universidades do Brasil que tem um curso técnico regular de Música, o que faz muita diferença na vida dos estudantes. O Brasil tem uma realidade diferente do continente da Europa, por exemplo, em que as pessoas crescem aprendendo instrumentos nas escolas. Nesse caso, quem quer fazer uma prova para um curso de graduação, está preparado. Aqui, o curso técnico serve para abrigar esses alunos para prepararem-se para a vida profissional, uma aprovação em Bacharelado ou Licenciatura”, explana o  Professor Fabio Presgrave, vice-diretor e docente da Escola de Música, coordenador e diretor artístico da UFRN Cellos.

Em 2019, Jenilson foi aprovado no processo seletivo da bolsa. Assim, percebeu uma oportunidade de dedicar-se mais à música, já que não estava trabalhando. A renda da bolsa (R$400), mais os auxílios da universidade e a ajuda da família seguravam “as pontas”.

Desenvolvimento de Jenilson

O Professor Frederico Nable, docente da Escola de Música e coordenador adjunto do UFRN Cellos há cinco anos, acompanha Jenilson desde que o jovem era funcionário no Centro Suzuki. Na música, o professor segue com um discente desde o Curso Técnico, relação próxima que, em cursos de outras áreas, ocorre somente na pós-graduação.

“Ele começou a ter aula com uma amiga minha que trabalhava no local. Ela sempre falava o quanto ele era talentoso, esforçado. Quando ela mudou-se de Natal, ele veio falar comigo, de modo tímido, para ter aula comigo. Começamos a ter aulas particulares. Ele perguntou quanto eu cobraria, mas, por saber a situação dele e sua vontade, não cobrei e estudamos juntos o violoncelo durante um ano”, comenta Frederico. O Professor ressalta a sensibilidade e inteligência de Jenilson, jovem que carrega com si um encanto pela música que poucas pessoas partilham. O docente atua também como coordenador de um Projeto de Extensão de “iniciação de cordas”, a Orquestra Infantojuvenil da UFRN, em que o estudante é voluntário, dando aulas de violoncelo.

Durante a pandemia, Jenilson sente que sua rotina foi desestruturada, pela dificuldade de estar longe do espaço acadêmico proporcionado pela universidade. Como jovem adulto e aluno, tenta conciliar as questões da casa, da família, da vida, com os estudos. “Ser aluno e bolsista da UFRN Cellos influenciou grandemente, de maneira positiva, na minha experiência como estudante e músico. Através dos ensaios e aulas do grupo cresci muito em minhas habilidades musicais, e dar aula através do projeto me amadureceu enormemente como profissional e ser humano. Posso dizer que depois da experiência como bolsista me apaixonei pela docência”, retrata Jenilson.

Em 2021, os planos de Jenilson são de continuar crescendo no instrumento. “Na medida do possível, ‘tirar’ da música tudo que ela pode me proporcionar. Também, tenho interesse em fazer pesquisa na área da música.” Fez a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e tirou a nota de 960 na redação, apesar de não ter tido a oportunidade de estudar de modo intensivo, baseou-se em um curso on-line que realizou antes da data de redigir o texto.

Jenilson está inscrito no Sistema de Seleção Unificada (SISU) para o curso de Física, por seu fascínio pelo universo. Como primeira opção, escolheu o Bacharelado. Como segunda, a Licenciatura. Para continuar na música, ele vai submeter-se ao Teste de Habilidade Específica (THE), que é realizado pela Núcleo Permanente de Concursos (COMPERVE). A seleção é para ingresso nos cursos técnico, bacharelado e licenciatura, cada um com sua especificidade.

UFRN Cellos

O Grupo UFRN Cellos realiza em 2021 sua décima terceira temporada. Coordenado, dirigido artisticamente e desenvolvido pelo Professor Fabio Presgrave desde 2009, a ação serve como laboratório profissional para os alunos da UFRN. Na UFRN Cellos, Jenilson destaca-se na parte instrumental e organizacional. O Grupo UFRN Cellos carrega tradição e é formado por discentes dos cursos Técnico, Bacharelado e de Extensão da Escola de Música (EMUFRN), promovendo eventos. Estudantes da Dinamarca, Alemanha, Argentina e Equador procuram o grupo devido ao patamar da produção artística, que atualmente, é composto por seis membros, incluindo quatro bolsistas, e é elemento do Núcleo de Arte e Cultura (NAC/UFRN).

Imagem: Grupo UFRN Cellos

Fonte: Agecom/UFRN

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