Uma piada infame para Bob Smith

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Era um desses pintinhos coloridos de feira. Chegando em casa, correu para mostrar a novidade a mãe, que estava no quintal. Mamãe, mamãe, olha só o que… Antes mesmo que terminasse a frase, ela o repreendeu. De costas, com a cabeça voltada para trás, gritou por sobre o ombro: Saia daqui,! Saia daqui! De onde ele estava, só deu pra ver um par de pés estirados no chão. A faca ensanguentada na mão de sua mãe. Ele não pode ver sangue, dizia sempre sua mãe às vizinhas. “É porque ele é mole”. Era domingo. Um dia bom para ter o pescoço de um frango cortado.

Todo domingo, se não houvesse um frango, não seria domingo. Assim sua mãe ia sempre à feira comprar o frango para o almoço. Frango era o prato preferido dele. Aliás, de seu pai e de seus irmãos também, acho. Sua mãe chegava com o frango. Amarrava o pé do bicho para que não fugisse, enquanto amolava a faca. Ele queria mostrar a sua mãe o pintinho cor de rosa que tinha comprado na feira com as moedas que havia economizado. Sua mãe voltou-se para ele, a faca ensanguentada enquanto enxugava o nariz vermelho, que escorria. Por que a senhora está chorando? Perguntava ele. Por conta dos bichinhos, ela sempre respondia assoando o nariz, como se de repente Abraão não tivesse ouvido o anjo quando levantou o punhal para Isaac.

Saia, saia, você não pode ver sangue! Repetia, enquanto do pescoço do franguinho que minutos antes ela havia torcido jorrava sangue, caindo num pote de margarina. Os gorgolejos espasmódicos e aqueles olhos de vidro embaçado fitando o garoto.

Meses se passaram até que as penugens de Alfredo deram lugar as penas. Havia se tornado um frango gordo e bonito. Alfredo? Agora o menino só queria saber de Alfredo, o nome que deu ao pintinho cor de rosa, que inclusive dormia com ele em sua cama. Alfredo? O garotinho o procurou por todos os cantos da casa num domingo ao chegar da rua e nada. Até que resolveu perguntar a sua mãe, que estava acocorada no quintal. Mãe, a senhora viu Alfredo? Ela voltou-se para ele por cima dos ombros, com o nariz vermelho. Tive que matá-lo. O quê?! Tive que matá-lo. Seu pai não queria me dar o dinheiro pra comprar frango. Daí falou nesse que tínhamos aqui no quintal.

NÃO! NÃO! NÃO! NÃO!

Deixe de ser besta, hoje é domingo! Disse, com a faca ensanguentada, enquanto assoava o nariz.
E no prato do garotinho, que tanto amava frangos aos domingos, lágrimas se misturavam a pés, pescoço, peito…

E a família, no maior estilo Jeffrey Dahmer, partia ossos, músculos e vísceras do que um dia foi o pobre Alfredo. Enquanto do seu canto, com o molho escorrendo do canto dos seus lábios, o garoto chorava dizendo:

Alfredo… Eu te amo!

Bob Smith, deitado na cama depois de sua sessão de quimio e até então atento à história de Alfredo, riu até as lágrimas caírem quando lhe contei sobre o triste fim do meu franguinho Alfredo. Bob Smith é sempre muito gentil. Afinal, minhas piadas são péssimas!

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