Quando se fala em birra, é bem provável que pais e mães já tenham experimentado seus efeitos, muitas vezes devastadores. Esse tema gera desconforto, pois normalmente acontece de surpresa e é difícil quem goste de falar sobre isso – ou sequer admitir que seu filho aja de tal maneira.
De acordo com Samanta Sievers, professora de Educação Infantil do Colégio Marista São Luís de Jaraguá do Sul (SC), a birra pode ser descrita como um descontrole emocional. Acontece especialmente em momentos de conflito, frustração, ansiedade e raiva, seja por ter recebido um “não”, por ter perdido um jogo, ou por não querer obedecer. “Devemos encarar a situação como um pedido de ajuda, como uma oportunidade de diálogo para ensinar a criança a compreender melhor o mundo e a forma como vivemos em sociedade”, orienta Samanta.
É preciso entender, contudo, que o cérebro do ser humano passa por mudanças até o fim da adolescência, ou seja, a estrutura cerebral de uma criança não é a mesma do adulto, de seu pai ou mãe. Partindo daí já poderíamos ter razões suficientes para compreender que a criança não deve ser tratada como um adulto em miniatura.
Assim, Samanta orienta que diante de uma birra o primeiro passo é refletir sobre o que desencadeou aquele comportamento. “Avaliar se a criança está com fome ou sono é o primeiro passo. Também é preciso analisar se ela está em perigo. Uma birra em um brinquedo alto do parquinho por exemplo, pede que ela seja retirada de lá imediatamente”.
Com base nesses fatores, a professora listou algumas dicas práticas que podem ser usadas em situações de birra para amenizar e resolver o conflito. Confira:
– Abaixe-se na altura da criança, garantindo comunicação olho no olho, mostrando assim que se está acessível, que será possível ouvi-la com atenção.
– Tente conectar-se emocionalmente e fisicamente. De nada vai adiantar longos discursos no momento da birra. Aproxime-se, segure-lhe a mão com delicadeza; se perceber abertura para o mesmo, lhe dê um abraço. Use expressões faciais empáticas e um tom de voz carinhoso. Pode ser difícil manter a calma, mas o adulto é o modelo e deve ser a parte madura dessa relação. Outro desequilibrado e nervoso vai só piorar a situação: pense nisso!
– Não grite, não bata. Não vai funcionar, simples assim. Se você enquanto criança “apanhou e não morreu”, ótimo! Mas lembre-se que violência gera violência e em breve, quando a criança tentar lhe bater, não diga que não saiba onde o com quem ela aprendeu isso.
– O primeiro passo é garantir que a criança se acalme. Dê-lhe comandos simples como ‘respire fundo, conte até dez, segure a minha mão.’
– Com crianças menores de três anos, uma boa dica é mudar o cenário, o foco da conversa, visando que ela se acalme antes de qualquer tentativa de diálogo. ‘Vamos dar uma volta lá fora e olhar o céu? Que tal você me dar a mão e a gente caminhar juntos um pouco? Venha comigo, quero te mostrar uma coisa.’
– Para todas as idades: assim que ela se acalmar e relaxar, converse com a criança sobre os sentimentos que vieram à tona durante a birra, descrevendo a situação e nomeando as emoções: ‘Você me pareceu muito chateado quando eu falei que era hora de guardar os brinquedos. Você ficou nervoso e jogou-os em mim. Que tal se a gente conversar para tentarmos juntos resolver isso de outra maneira?’.
– Com crianças maiores, mantenha o diálogo com frequência sobre regras e limites, de forma positiva. Antes mesmo de começar a refeição, entrar no shopping ou supermercado, por exemplo, já realize algum combinado: ‘temos três tipos de salada, gostaria que você escolhesse uma para provar’; ‘hoje você poderá escolher um item para comprar’, ou ainda ‘hoje não será possível comprar um brinquedo novo, mas podemos olhar o que tem e pensar em opções para seu aniversário, que tal?’. Se mesmo após esse diálogo a birra acontecer, é interessante que haja uma consequência para que a criança entenda princípios de senso de justiça. Importante: não ceda ao combinado devido à birra, cumpra a sua palavra apesar dela, mostrando que havia sido feito um acordo anterior e que a sua palavra tem valor.
– Dica valiosa que vale para qualquer idade: se você sabe que a criança faz birra toda vez que você fala que é hora de tomar banho ou que chegou o momento de ir embora da casa da vovó, avise-lhe antes de isso acontecer. São medidas preventivas que têm como objetivo evitar a teimosia. Que tal ligar o despertador do celular para dali cinco minutos e assim que o fizer, falar: ‘quando o despertador tocar será a hora de ir embora, certo?’ Essas dicas normalmente funcionam.
– Outra dica: quando for possível, possibilite que a criança realize escolhas, visto que os ataques de birra ocorrem em muitos momentos impostos, como quando escolhemos suas roupas ou o que vão fazer. ‘Hoje você pode escolher entre esta ou esta roupa para sairmos em família, qual você prefere usar?’. A possibilidade de escolha soa muito mais respeitosa do que simplesmente dizer “vista isso”.
O equilíbrio emocional do adulto e o compromisso em educar, e não punir a criança birrenta, fazem toda a diferença. Aproveite este momento para conectar-se emocionalmente com sua criança, com atitudes acolhedoras e amáveis, garantindo leveza e diálogo.
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