Sons e imagens de pássaros, insetos e até o chacoalhar das folhas se transformam em matéria-prima para a exposição do Departamento de Artes da Universidade do Rio Grande do Norte (Deart/UFRN) OCAMPUS — Projeto Colaborativo de Escuta Interespécies. O evento acontece entre os dias 30 de setembro e 7 de outubro na Galeria Laboratório do Deart.
O objetivo é colocar a escuta interespécies no centro da experiência artística. E destacar por meio de sons e imagens coletadas no campus a presenças de animais, vegetais e sonoras que normalmente passam despercebidas. A exposição procura mudar a percepção do espaço universitário, mostrando-o como um território compartilhado por múltiplas formas de vida e não apenas como um cenário humano. Além disso, o projeto visa problematizar os impactos humanos sobre a Terra e fomentar conexões entre natureza, tecnologia e cultura, transformando o processo de pesquisa e criação dos alunos em uma prática pedagógica.
Para a professora do Deart, Regina Johas, referências como o artista Mark Dion ajudaram a moldar a proposta, especialmente por seu trabalho que questiona os modos tradicionais de classificação da ciência e arqueologia como uma construção ideológica. “Ao escutar as presenças de animais que já habitam o campus, criamos dispositivos que lembram os híbridos de Dion — algo entre museu e floresta, laboratório e abrigo —, que revelam camadas de vida silenciadas pelas lógicas institucionais”, explica.
O projeto é resultado da imersão das turmas de Tridimensional II e Tópicos em Artes Contemporânea, e se insere no campo expandido das práticas artísticas que exploram novas formas de relação entre humanos e outras espécies. ‘’A proposta instaura um tempo regido pela escuta e pela atenção, convidando a uma experiência sensível de presença no território’’, destaca Regina.
A exposição ainda se conecta a debates contemporâneos sobre o lugar do humano no planeta. “OCAMPUS dialoga com perspectivas críticas do Antropoceno e da virada pós-humana, ecoando autoras como Donna Haraway, que nos convida a ficar com o ‘problema’ e a escutar os mundos que se entrelaçam ao nosso”, explica Regina Johas. Ela lembra que o projeto também se inspira na antropóloga Anna Tsing, que escreve sobre a coabitação possível mesmo em cenários de ruína, e no ambientalista Ailton Krenak, que por meio da cosmologia indígena entende a Terra como um organismo vivo e não apenas um cenário.
Imagem: Divulgação
Fonte: Agecom/UFRN







































































