A força da convicção
Tactics Ogre conta a história do jovem Denam Pavel, um rapaz advindo da província de Golyat. Junto com sua irmã Catiua, o seu melhor amigo Vyce Bozeck e um grupo de ex-cavaleiros do Reino de New Xenobia, ele se torna uma figura central do grupo de resistência de Walister. Após o bem sucedido resgate do duque Juda Ronwey, Denam se vê diante de uma trama complexa de eventos políticos que testarão a sua lealdade e ambição.
Há uma riqueza praticamente incomparável de detalhes históricos assim como de perspectivas de personagens de todos os lados do conflito. Poucos jogos do gênero conseguem ter tamanha desenvoltura e elegância no desenvolvimento de sua narrativa, ainda mais fazendo isso sem exagerar na quantidade de diálogos, evitando fazer uma trama rocambolesca. Da mesma forma, essa agilidade poderia enfraquecer o desenvolvimento dos personagens, fazendo com que tudo se resumisse a um campo de batalha forçado, mas esse claramente não é o caso.
Em particular, chama a atenção a maleabilidade da história, que conta com várias escolhas e alguns desdobramentos específicos baseados em situações específicas de gameplay. Determinados momentos chave dão origem a ramificações na narrativa e somos forçados a lidar com as consequências das nossas ações.
A luta constante
Tactics Ogre é um RPG estratégico com batalhas táticas baseadas em turnos. No controle de até 12 personagens (usualmente com limites menores), cabe ao jogador movimentar suas unidades pela malha quadriculada do campo de batalha. Os turnos são individuais e fatores como classe, equipamento e efeitos de suporte afetam a agilidade (RT) dos personagens.
A questão geográfica afeta em especial o uso de ataques de longo alcance. As flechas e projéteis mágicos possuem trajetórias específicas que dependem de fatores físicos como altura e obstáculos no caminho. Isso implica que nem sempre o alvo desejado pode ser atingido e é importante ficar atento a isso no mapa.
Reborn também conta com um sistema de cartas de buff que podem aparecer no fim de cada turno. A ideia é movimentar o personagem para aquela área e coletá-la ao parar naquele ponto do mapa. Com isso, o jogador pode ganhar benefícios como bônus de ataque ou magia, restauração de MP (necessário para usar magias e técnicas) ou ativação mais frequente das habilidades passivas. Cada personagem (aliado ou inimigo) possui quatro slots para elas e todos os benefícios serão cancelados ao coletar uma carta de negação.
Derrotar um inimigo implica no surgimento de uma sacola com seus pertences ou no surgimento de uma carta de tarô que aumenta permanentemente um atributo como força ou inteligência. Em geral, as missões envolvem derrotar o líder de um grupo de inimigos, sendo potencialmente mais rápido focar em despachá-lo em vez de eliminar todas as tropas.
De modo geral, há vários elementos para levar em consideração ao montar as estratégias em Tactics Ogre Reborn. Trata-se de um jogo rico mecanicamente, com fases bem pensadas e uma estrutura sólida de combate. Em caso de dificuldade, também é possível usar a Chariot Tarot para voltar um pouco no combate e tentar tomar outro rumo melhor.
Mudando o equilíbrio
De forma geral, Tactics Ogre Reborn é baseado na edição de PSP de Tactics Ogre: Let Us Cling Together. Porém, há mudanças significativas entre as versões, que vão além de uma remasterização para que o jogo pudesse ser melhor aproveitado em sistemas de alta definição. Ainda no aspecto apresentação, o jogo conta com uma trilha sonora orquestrada em cima das composições de Hitoshi Sakimoto e dublagens em inglês e japonês, assim como novas legendas em espanhol, francês, alemão, chinês e coreano.
Já no quesito gameplay, as mudanças são um pouco mais complicadas. Há adições significativas, como objetivos secundários para os combates, a unificação de MP e TP, a aceleração do combate em duas vezes, a opção de ver o campo e ajustar o posicionamento das unidades e até mesmo colocar uma IA para controlá-las (especialmente útil para treinamentos voltados a aumentar a proficiência nos equipamentos). Porém, Reborn opta por um controle mais rígido da dificuldade com um sistema de Union Level. A ideia é simples: é um level cap que vai sendo ajustado ao longo da campanha, impedindo que o jogador fique mais forte do que os inimigos da narrativa.
Essa tentativa de bloquear a força bruta implica também na possibilidade de sofrer um softlock, ou seja, ficar incapaz de avançar em algum ponto pela inviabilidade da equipe. Houve também a remoção do sistema de corações, fazendo com que qualquer unidade derrotada seja completamente eliminada após três turnos. Enquanto outros jogos do gênero tentam criar mecanismos para que jogadores mais inexperientes possam ter em mãos todas as ferramentas necessárias para avançar, Tactics Ogre Reborn opta por se fechar mais ainda em si mesmo para defender uma noção de “desafio autêntico”.
A meu ver, essa escolha foi equivocada, tornando o jogo desnecessariamente difícil e frustrante em vez de oferecer esse modo desafiador ao jogador como uma opção. Dessa forma, ele está bem longe de ser recomendável para pessoas inexperientes no gênero, que, caso queiram experimentar o jogo, estarão mais bem servidas com a edição de PSP. Pessoalmente, também recomendaria Triangle Strategy como uma opção mais equilibrada que também oferece uma excelente complexidade mecânica e narrativa.
O renascimento de um clássico
Tactics Ogre Reborn traz de volta um clássico dos RPGs estratégicos em grande estilo. Trata-se de uma obra francamente indispensável para qualquer jogador, apesar de algumas escolhas específicas da nova edição dificultarem a entrada de novatos no gênero. Mesmo assim, Tactics Ogre continua mostrando não apenas a competência de seus criadores, mas a grande possibilidade dos jogos em geral como arte e reflexão.
Prós
- Narrativa magistral que consegue ser ágil sem enfraquecer a trama nem os personagens;
- Sistema de escolhas bem explorado para as ramificações narrativas;
- Gameplay rico em mecânicas que permitem maleabilidade estratégica;
- Trilha sonora atmosférica de altíssima qualidade contribui para a constante gravidade das cenas e do combate;
- Dublagem em inglês e japonês adicionam mais uma camada de imersão à história.
Contras
- Limitação de nível pode dificultar a entrada para novatos no gênero;
- Alguns raros casos de indicações dissonantes na interface de batalha.
Tactics Ogre Reborn — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Análise de Ivanir Ignacchitti
Fonte: GameBlast