Em 1996, o mundo era apresentado a Lara Croft. Nascida em 14 de fevereiro em berço de ouro na Inglaterra, a garota sofreu um acidente de avião aos 12 anos, deixando-a presa nos alpes do Himalaia por duas semanas. O evento traumático mudou Lara para sempre, dando-lhe um propósito de vida: aventura e glória. Tendo sua primeira aventura no Sega Saturn (engana-se quem acha que ela nasceu no PlayStation), a musa vem conquistando corações e segredos por quase 30 anos, passando por altos e baixos, adaptações para além dos jogos mas eterna relevância.Em setembro de 2023, no Nintendo Direct, foi anunciado o relançamento de suas aventuras originais para os consoles atuais em Tomb Raider I-II-III Remastered Starring Lara Croft, oferecendo a oportunidade de uma nova geração de jogadores para apreciar a origem de Lara com três de suas aventuras mais icônicas e algumas adições especiais. Mas será que vale a pena? Prepare as pistolas duplas, ande com cuidado até a beirada mais próxima e dê um salto arriscado nesta análise.
Os Caçadores da Cruzada da Perdição
Antes de falarmos dos remasters, uma breve aula de história e paleontologia sobre os jogos incluídos. Em Tomb Raider, Lara deve procurar os fragmentos da relíquia Scion, pertencente ao continente perdido de Atlantis, antes que a ambiciosa Jacqueline Natla e seus mercenários obtenham as peças e levem a humanidade à ruína. Na sequência, a exploradora está em busca da Adaga de Xian, um artefato chinês que pode transformar seu portador em um dragão, com o objetivo de encontrá-la antes de Marco Bartoli e seu culto, Fiamma Nera. Por fim, Croft procura os fragmentos de um meteorito que foi espalhado pelo mundo, enquanto desvenda alguns mistérios da história.
A franquia sempre foi conhecida por seus movimentos realistas, controles de fácil aprendizado e gameplay intuitivo. Com o port, essas qualidades foram trazidas de volta sem problemas. Mesmo quase 30 anos depois, é incrível como os gráficos originais continuam bonitos, especialmente os dos segundo e terceiro títulos. Claro, eles são poligonais e datados, mas é admirável o trabalho que a Eidos teve, na época, de dar realismo aos comandos de Lara.
A Arca da Aliança
Se os gráficos originais incomodam, existe uma alternativa: com o simples apertar de um botão, os visuais ficam remasterizados instantaneamente, dando mais forma e detalhes para os personagens e ambientes. O modelo de Lara é bastante parecido com a versão do remake Tomb Raider: Anniversary (Multi), mantendo seu físico atraente e seu olhar confiante. A luminosidade dos ambientes é bastante afetada nesta opção, mas, como é possível alterar a qualidade a qualquer momento, isso não é um problema (nada mais, pode até ser um puzzle em escala metafórica, pulando entre gerações para desvendar os caminhos e comparar a evolução).
Os gráficos atuais também contam com uma barra de vida visível para os chefões, deixando os combates mais dinâmicos e estratégicos. A trilogia conta ainda com um sofisticado e divertido Modo Fotografia. Apertando R3 e L3 ao mesmo tempo a qualquer momento do jogo, a câmera vai congelar e o jogador terá total liberdade em colocar Lara com variadas poses, trajes, armas e expressões faciais para a melhor foto possível — pelo menos com gráficos modernos; na versão clássica, ela mantém a mesma expressão e roupa de sempre.
Uma adição bastante bem-vinda é a tradução em português. Embora o áudio continue apenas em inglês, a trilogia foi inteiramente traduzida com bastante qualidade para nosso idioma, melhor que certos jogos de luta de anime.
O Santo Graal
Não é possível falar destes pináculos do gênero de aventura sem mencionar a jogabilidade, especialmente quando se debate muito quanto a qualidade da jogabilidade de Tomb Raider. Eu falei mais cedo como ela é conhecida por ser fácil de aprender, mas, vira e mexe, artigos e vídeos sobre “jogos que envelheceram mal” apontam para as aventuras de Lara como exemplos óbvios, condenando a rigidez dos comandos e trabalho para realizar ações simples, como virar levemente para o lado ou subir um degrau maior.
Admito que tive problemas no início para entender essa jogabilidade, principalmente em acertar o momento para saber quando parar e pular, mas logo eu peguei o jeito. Os jogos te dão ordens para agir, mas não pegam na sua mão e te ajudam por todo o progresso. É uma evolução natural para entender como Lara se move.
É óbvio que ela nunca esteve tão travada quanto no primeiro título, mas mesmo nele é possível conseguir pegar o jeito e desbravar os pontos mais inóspitos esquecidos da história. E com a adição de novos movimentos com os seguintes jogos, as coisas ficam mais suaves para prosseguir.
A atmosfera imersiva da trilogia é algo tirado de quadrinhos do gênero pulp. Cantos escuros, claustrofóbicos e poucas músicas para prender a atenção, com todo e qualquer ser vivo querendo um pedaço da inglesa, que está armada (inicialmente) apenas com um par de pistolas, evocam os mais prazerosos sentimentos de aventura e suspense. Admito que eu levei alguns sustos, algo que fazia tempo que não acontecia jogando algum jogo.
Em adição a tudo isso, as expansões exclusivas do PC de cada jogo também estão incluídas, contendo níveis mais difíceis e inimigos mais mortais. Ah, uma pequena dica aos jogadores veteranos: os códigos da trilogia original ainda continuam nos jogos, para quem quiser ver alguns fogos de artifício.
O Anjo das Trevas
Infelizmente, nem todas as decisões são sábias com este pacote. A começar, foi prometido duas opções de jogabilidade: tanque (clássico) e moderno, onde Lara é mais livre e supostamente menos trabalhosa de operar. Supostamente, porque boa parte de suas acrobacias simplesmente não funcionam direito, o que é um enorme problema quando inimigos atacam a arqueóloga aos montes e vorazmente.
A câmera também é bastante temperamental. Em ambientes abertos, ela opera sem problemas, enroscando poucas vezes, mas nada que atrapalhe por ser controlada com o segundo analógico. A situação complica, no entanto, quando Lara fica em espaços apertados ou de costas para a parede, incapacitando o jogador de ver o que tem na frente da protagonista.
Com as adições estéticas, era de se esperar que as cutscenes nos gráficos modernos também fossem refeitas. Não é o caso, contendo meramente um filtro remasterizado para tirar o granulado do vídeo, apresentando com a mesma computação gráfica da década de 90. Também existe certo desleixo com a escolha de texto não apenas relacionado aos erros de português: utilizar Times New Roman para as legendas deixa a sensação de que foi feito sem capricho, não apenas no idioma nacional.
Por fim, a falta de bônus especiais é estranha. Seria interessante se pudesse acessar cada fase separadamente ao finalizar cada jogo ou inclusive desbloquear o já mencionado Tomb Raider: Anniversary para comparar os modos de jogo ou ver trailers e vídeos dos títulos anteriores para adicionar a experiência e legado da franquia, mas os únicos bônus que aguardam são créditos e direitos autorais. Bem decepcionante.
A Ascensão de Lara Croft
Prós:
- Três jogos envolvendo algumas das mais icônicas aventuras de Lara Croft;
- Expansões de PC incluídas;
- Legendas em português;
- Divertido Modo Fotografia
- Opção de mudar entre gráficos antigos e remasterizados;
- Controles de fácil aprendizado;
- Atmosfera imersiva.
Contras:
- Câmera temperamental;
- Falta de bônus especiais;
- Cutscenes continuam com CGI ultrapassado mesmo na opção moderna;
- Controles modernos imprecisos.
Tomb Raider I-II-III Remastered Starring Lara Croft — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: Switch
Análise feita por Fábio Castanho Emídio (StarWritter)
Fonte: Nintendo Blast