A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) acaba de conquistar mais um espaço estratégico para o fortalecimento da agroecologia no estado. O projeto Mandala: Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Agroecologias e Produção Orgânica do Rio Grande do Norte, vinculado ao Instituto de Políticas Públicas (IPP/UFRN), foi aprovado em edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq). A iniciativa fomenta núcleos de estudos em Agroecologia e Produção Orgânica (NEAs) em todo o país.
Coordenado pela professora Joana Moura, do IPP/UFRN, o núcleo nasce da articulação entre grupos de pesquisa e extensão da Universidade, como o Grupo de Pesquisa e Extensão do Instituto de Políticas Públicas, o Laboratório de Estudos Rurais (LabRural), e o Grupo de Estudos em Solo (GeSolo) e o projeto Floema, da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ).
O Mandala é também fruto da parceria com a Incubadora de Tecnologias Sociais Engenheiros Sem Fronteiras de Natal (ESF-Natal). A ação integra ciência, extensão e participação social em benefício das comunidades do semiárido potiguar.
Espaço de produção científica e social
O Mandala foi concebido para ser, segundo Joana Moura, “um espaço de produção científica, cultural e social, e de troca de conhecimentos entre saberes acadêmicos e agroecológicos”. A proposta busca dialogar diretamente com camponeses, quilombolas e agricultores familiares, de forma a estimular a transição agroecológica da produção de alimentos e a consolidação de práticas sustentáveis no campo.
O diferencial do núcleo em relação a outras experiências de agroecologia no Brasil está na abordagem territorializada e integrada. Ao em vez de centralizar a produção de conhecimento em ambientes exclusivamente acadêmicos, o Mandala aposta em metodologias participativas e no fortalecimento das comunidades como protagonistas do processo. “Nosso núcleo busca unir ensino, pesquisa e extensão em uma perspectiva emancipadora, valorizando os saberes tradicionais e desenvolvendo tecnologias sociais adaptadas ao semiárido”, afirma a coordenadora.
Objetivos e ações previstas
Entre as ações estruturantes do núcleo, estão a criação de práticas formativas, como cursos, oficinas e rodas de conversa, abordando temas como sementes crioulas, economia solidária, mudanças climáticas, gênero e raça. Outra frente será a implantação de duas Unidades Referenciais Agroecológicas (URAs) nos Territórios da Cidadania do Mato Grande e do Trairi, priorizando o protagonismo das mulheres.
Os Territórios da Cidadania, criados pelo governo federal em 2008, visam promover desenvolvimento econômico e social em regiões rurais com baixo índice de desenvolvimento. No Rio Grande do Norte, Mato Grande e Trairi estão entre os dez territórios, reunindo municípios com características sociais, culturais, econômicas e geográficas semelhantes. O intuito é integrar políticas públicas para reduzir desigualdades regionais.
Além disso, está prevista a consolidação da base experimental da Agrofloresta Pedagógica da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), espaço que funcionará como laboratório vivo para capacitação e troca de experiências.
A agrofloresta, segundo Joana Moura, será fundamental. “Ela se constituirá como um ambiente dinâmico na construção do conhecimento, possibilitando vivenciar, na prática, diferentes módulos produtivos que podem ser adaptados às condições socioeconômicas das comunidades”, relata.

Parcerias e legitimidade social
Um dos pontos fortes do Mandala é a articulação com movimentos sociais e comunidades tradicionais, que asseguram legitimidade e capacidade mobilizadora ao projeto. O núcleo contará com o apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento dos Pequenos Agricultores, de associações comunitárias quilombolas e de sindicatos rurais. Também dialogará com organizações como a Articulação do Semiárido (ASA), que acumula décadas de experiência na convivência com a caatinga.
“O êxito do núcleo só será possível porque as comunidades participam da sua construção desde o início. O diálogo com os movimentos sociais é o que garante que as ações sejam coerentes com as demandas dos territórios”, destaca Joana Moura.
Além das organizações sociais, o Mandala terá apoio técnico de instituições como as Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O apoio amplia o alcance das formações e possibilita conexão com políticas públicas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater).

Protagonismo das mulheres e juventudes
Outro eixo prioritário do projeto é o fortalecimento do protagonismo feminino no campo. Experiências anteriores da equipe da UFRN já evidenciaram que as mulheres rurais têm papel central na inovação e implementação de práticas agroecológicas. Para Joana Moura, “a segurança alimentar tem se mostrado uma pauta mobilizadora que agrega atores muitas vezes invisibilizados pelas políticas de desenvolvimento rural, como jovens e mulheres, em torno de projetos sustentáveis”.
As Unidades Referenciais Agroecológicas terão foco nesse aspecto, estimulando a participação das agricultoras, especialmente na implantação de quintais produtivos e no manejo de sementes crioulas.
Quintais produtivos são pequenos espaços ao redor das casas, sobretudo em áreas rurais. São usados para o cultivo diversificado de hortaliças, frutas, plantas medicinais e até a criação de pequenos animais, promovendo segurança alimentar, renda extra e preservação de saberes tradicionais.
Já as sementes crioulas são grãos tradicionais guardados e trocados por agricultores ao longo de gerações. Elas se adaptam ao clima e solo da região, podem ser replantadas livremente e ajudam a manter a diversidade de alimentos e a autonomia das comunidades.

Impacto esperado e Agenda 2030
Nos próximos anos, o Mandala pretende gerar impactos que vão desde a valorização dos saberes tradicionais e da biodiversidade local até a formação de novas gerações comprometidas com a agroecologia. Entre os resultados esperados, estão o fortalecimento da autonomia produtiva de camponeses e quilombolas, o estímulo à recuperação ambiental com participação comunitária e a disseminação de tecnologias sociais adaptadas ao semiárido.

O núcleo também dialoga diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. As ações estão alinhadas a metas como erradicação da pobreza, fome zero, agricultura sustentável, igualdade de gênero, redução das desigualdades, ação contra a mudança climática e vida na terra. “Nossa proposta foi estruturada justamente para dialogar com os marcos globais e nacionais de sustentabilidade. Queremos que a UFRN se consolide como referência regional nesse campo”, conta a coordenadora.

Universidade e sociedade em sintonia
Para a professora Joana Moura, o grande mérito da proposta é o caráter integrador. “O Mandala se diferencia, porque não é apenas da Universidade, nem apenas das comunidades. Ele nasce do encontro entre os dois mundos e busca soluções coletivas para os desafios da produção de alimentos no semiárido”, destaca.
Fonte: Agecom/UFRN







































































